quinta-feira, 4 de junho de 2015

Por favor, repare a bagunça!


Quem não queria que sua casa fosse igual a um apartamento decorado, ou a uma dessas casas de
revista de decoração? Eu queria! E inclusive já tentei que ela fosse!
Queremos viver uma vida perfeita, organizada, sem pedras (ou brinquedos!) pelo caminho, e desejamos que a nossa casa reflita essa perfeição. Mas o que a Renata Penna, do Uma vez mamífera, nos conta (e nos conforta) de uma forma muito divertida, é que a "bagunça" das nossas casas, nossas e das crianças, demonstram que ali existe vida e que não estamos apenas existindo, mas vivendo, com tudo que essa palavra envolve!
Confiram!


Quem não gosta dos ambientes milimetricamente calculados das revistas e mostras de arquitetura? Móveis arranjados com perfeição, almofadas estrategicamente posicionadas, tapetes tinindo de novos, cortinas sem uma mancha de gordura, rodapé combinando com a maçaneta da porta, souvenirs obsessivamente posicionados sobre as prateleiras, bem ao lado de um porta-retrato brilhante da família sorridente, de férias em um lugar paradisíaco qualquer. Tudo combina com tudo, e nada foge ao script. Quem não gosta?

Eu gosto. Pra ver. E também já quis viver em um ambiente assim, confesso. Aliás, acho que passei um tempo precioso perseguindo esse ideal da casinha de bonecas – e sofrendo por, obviamente, não conseguir alcançá-lo.
Aqui em casa, sempre encontramos um brinquedo esquecido pelo chão, ou debaixo do sofá, ou por trás das almofadas. Uma camiseta, ou pé de meia, ou calcinha, ou pé de chinelo, sempre acha de se esconder nos lugares mais inusitados: embaixo da mesa de jantar, por entre os livros da prateleira, na gaveta do banheiro, por baixo das almofadas.
Não passamos roupas. Elas vão direto da máquina de lavar e secar para o armário – ou, quando falta o tempo, para uma prateleira do quarto, de onde são estrategicamente recolhidas para ir direto para o corpo, na hora da necessidade.
A área de serviço, com seus cestos coloridos, está sempre entulhada: raramente conseguimos colocar as roupas em dia. A louça do dia a dia vai sendo esquecida na pia, até que ela encha e seja a hora de fazer um ciclo na lava-louças (artigo cujo inventor abençôo silenciosamente todos os dias – embora só há pouco tenha acabado de pagar suas infinitas prestações).
No banheiro, já há muito desisti de arrumar em frente ao espelho pequenos frascos de perfume (que aliás não usamos, e só servem mesmo para juntar pó) ou outros souvenires decorativos. A decoração é minimalista, e normalmente inclui um bonequinho de playmobil, uma pecinha colorida de lego e um giz de cera perdido do estojo.
Nossa sala é alegremente adornada por mochilas de bichinho, livros e dvds empilhados aqui e ali, um quadro coloridíssimo pintado pelas pimentas pendurado na quina (elas mesmas escolheram um lugar e inventaram um meio de fazê-lo) da janela, a mesa coberta por uma toalha de chita sob um plástico transparente (não muito bonito, mas bem mais prático para a limpeza do dia-a-dia).
A casa da revista de decoração é linda, é perfeita, é impecável, mas não tem vida. Porque gente vivendo em casa bagunça, tira as coisas do lugar, suja, mistura, deixa suas marcas da vida de todos os dias. A casa da revista de decoração é linda, mas não tem história. E mais importante: não tem a nossa história.
Nossa casa tem crianças, mas mais do que isso: ela tem vida. Nela vivem pessoas que trabalham, comem, brincam, estudam, choram e dão risada, desejam coisas, sonham e realizam. Como querer que esteja tudo sempre arrumadinho? Nossa vida interior não é arrumadinha! Por que a exterior deveria ser?
Cada pedacinho da nossa casa conta uma história particular e especial – fala sobre os nossos erros, sobre os nossos acertos, sobre o que gostamos e o que não, sobre as nossas impossibilidades e limitações, sobre aquilo tudo que fazemos bem, sobre aquilo que nos faz felizes.
Então, da próxima vez que eu receber uma visita em casa, não vou dizer: “por favor, não repare a bagunça…”. Ao contrário. Vou dizer, em alto e bom som, e com um sorriso de orelha a orelha: “por favor repare a bagunça, ela tem muitas histórias pra contar. e lembre-se: ela é diretamente proporcional à alegria dos moradores da casa!”.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário