Essa semana fui convidada por um
jornal para falar sobre a relação da família com a escola, e o papel de cada um
na educação de uma criança. Retomei algumas pesquisas sobre o tema e a algumas
falas recorrentes que tenho escutado nas escolas.
Por um lado, estão os professores
e equipe diretiva se queixando: “Não sou
educadora e sim professora”; “Se nem
a família consegue educar essa criança, eu vou conseguir? ; “Esse menino tem jeito não.”; “A família
quer entregar o papel da educação à escola e não querem saber de nada que
acontece aqui.”; “Chamamos para reunião, mas as famílias que mais precisam não aparecem”. “Muitas crianças
chegam aqui pensando ser o centro do universo, não respeitam ninguém”.
Por outro lado
estão as famílias se queixando: “Não
tenho tempo para nada.”;, “Chego do trabalho cansada e não consigo ensinar
tarefas nem brincar com o meu filho.”; “ A escola precisa cobrar menos e nos
ajudar mais.”; “ Não consigo contribuir o tanto que a escola me pede.”; “A
escola não aceita meu filho e nem minha família como ela é.”.
Afinal, quem está certo? Podemos
pensar essa questão considerando somente um desses lados?
Nos dias de hoje, a relação entre a escola e a família
é uma das mais instigantes questões, tanto no âmbito das pesquisas como dentro
das mais variadas unidades escolares de ensino em quase todo o mundo. Seja devido
às mudanças pelas quais têm passado a família nas últimas décadas, seja em face
das mudanças constantes e, às vezes, radicais observadas na escola, bem como da
consequente discussão (e incerteza) acerca do lugar dessas instituições na
formação das novas gerações. Ambos os lados precisam sair do “jogo de empura” que gera uma série de equívocos e
mitos sobre o relacionamento entre a família e a escola, prejudicando o aluno,
que deveria ser a prioridade de todos.
Afinal de contas, de uma forma mais onipresente, mais
discreta, mais intensa, mais agradável ou mais ameaçadora a escola faz parte do
cotidiano da família e vice-versa. Ambas tem papéis diferentes, porém
complementares.
A
educação, enquanto processo de formação de uma pessoa, conta com várias
instâncias formativas, em que inquestionavelmente se destaca a família, como o
primeiro elemento social de uma criança. Posteriormente a escola, igreja,
amigos, mídia e outras tantas mais em que existam estruturas sociais e
transferências de saber. Assim, a educação não se reduz ao ensino
e não é um fenômeno restrito ao espaço escolar, ela tem como especificidade a
seleção e transmissão de diferentes saberes, específicos desse espaço
socializador. De fato não tem como entregar a função da educação toda para a
escola, visto que é um dos lugares que a educação acontece e não é o único.
Porém, de acordo com Saviani (2002), o professor é sim um educador e a escola é o local que prepara a criança enquanto cidadã
para a vida e deve transmitir valores éticos e morais aos estudantes e para que
cumpra com seu papel deve acolher os
alunos, suas diferenças, com empenho
para verdadeiramente transformar suas vidas.
De acordo com a legislação brasileira (Lei 9394/96, art. 2º) a educação é
dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. A responsabilidade pela formação da criança em sua integralidade é de
todos envolvidos nesse processo educativo, ou seja, da família, da comunidade,
do estado e das escolas. Não tendo outra saída que não seja, um maior diálogo entre
elas, para que se possa garantir o pleno desenvolvimento do indivíduo.
Esse diálogo só pode ser efetivado dentro da
especificidade de cada instituição e das relações com a comunidade e com cada
família. Em alguns casos, esses se organizam espontaneamente e procuram a
direção e os professores para serem mais participativos na escola, mas nem
sempre essa é a regra. Na maioria das instituições, cabe a ela essa mobilização
de uma forma mais estruturada para criar espaços em que a aproximação
família-escola seja possível.
Ao ponderar uma necessidade de dialogo com a família,
a escola precisará estar disposta a
escutar, conhecer e acolher a criança na sua singularidade. O objetivo
dessa aproximação não pode ser somente para “informar”, nem para punir ou
criticar um modelo de criança ou de família, tentando enquadra-la em um certo
padrão de normalidade. E sim para coletivizar conhecimentos, se escutarem e repensarem suas funções enquanto educadores.
Quando a família se sente acolhida
(mesmo com toda sua especificidade, diversidade, erros e acertos), ela passa a ter um
sentimento de pertence à escola e compartilha essa segurança com a criança. Cabe
à escola apresentar um tratamento similar a todas as famílias e crianças, no
sentido de garantia dos direitos, sem distinção de padrões sociais, culturais
ou socioeconômicos.
Para auxiliar no processo de ação
institucional no tocante às parceiras com as famílias, podemos pensar em
algumas questões:
·
A diversidade das famílias, seus valores e suas opções
na criação dos seus filhos são respeitadas?
·
Como as famílias podem ser parceiras com o trabalho coletivo
promovido na instituição?
·
Há por parte dos profissionais, demonstração de que as
famílias são bem vindas? (Goiânia, 2014).
E cabe a família
repensar se:
·
Estou ensinando o meu filho a respeitar as regras da
sociedade e em especial de sua escola?
·
Tenho dado autoridade para a escola para contribuir de
fato na educação do meu filho?
·
Qual a importância do professor na sua vida?
·
Na medida do possível tenho participado das atividades
da escola?
E se apesar dos esforços, a família não tiver
condições ou não se mostrar disposta a participar? Infelizmente, essa é a
realidade de muitas escolas. Não podemos desconsiderá-la mas ainda assim
precisa se pensar em criar um espaço em que o aluno seja respeitado, tenha sua
dignidade garantida e oportunidade de aprender. Caso contrário, a escola perde
sua função de espaço transformador e de possibilidade ao aluno marginalizado.
Jordana de Castro Balduino
Referências Bibliográficas
BRASIL.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
GOIÂNIA.
Infâncias e criança em cena: por uma
política de educação infantil para o município de Goiânia. 2014.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 35. ed. rev.
Campinas: Autores Associados, 2002.
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