"Eu sempre amei a palavra família. Eu sempre amei a ideia de família.
Amei a ideia de família, porque fui criada em uma família incrível.
Uma família reconstituída, fruto de divórcios, de novos casamentos e
tantas outras bagunças da vida –tive até o prazer de ser convidada para o
casamento dos meus próprios pais. Família na qual tem neta com
sobrenome do padrasto da mãe, tem afilhada estrangeira que virou filha,
tem tio gay criando o filho adotado da irmã que morreu, tem judeu que
casou com católica feminista, tem casal evangélico feliz que casou cedo,
tem líder espírita de 90 anos que sempre toma cerveja preta, tem
lésbica conservadora, tem veterano de guerra que cria patinhos, tem
casal com 25 anos de diferença de idade e tem até eu mesma no meio dessa
confusão toda.
Essa é a família da qual me orgulho, que colocou cada tijolo para
construir a pessoa que me tornei. Foi essa família que me protegeu a
vida toda de qualquer pequena ameaça: pernilongos, friagem, corte de
papel no dedo. E é essa mesma família que hoje está ameaçada de
simplesmente deixar de existir, por causa dos bons princípios do nosso
deprimente Poder Legislativo.
A minha noção de família foi rasgada. Meu amor pela palavra “família” foi colocado em questão."
Ruth Manus - Blog Estadão
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