sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Fériasfobia

Hoje eu escuto mães com voz trêmulas, respiração ofegante e tom de voz alterado me perguntando “ O que você vai fazer com eles nas férias?!” 
Eu dormia até mais tarde, bem mais tarde.
Pulava o café da manhã e ia direto pro almoço, às vezes nem almoço existia.
Assistia, desenhava, brincava, pintava, brigava com as minhas irmãs.
Tomava banho tarde, muito tarde. Os pés sempre sujos, a cabeça fedia a suor e a roupa sempre surrada.
Queria puxar o Sol, queria comer as nuvens e encontrar todas as minhocas dos vasos de plantas da minha mãe.
Não ia para a Disney, nem para a praia, nem para acampamento e nunca, juro por DEUS,  nunca tentei me jogar de um prédio por isso, ou pensei em comprar uma metralhadora para matar uns desconhecidos por aí. Curtia a minha casa, as minhas coisas e até hoje eu gosto disso.
Hoje eu escuto mães com voz trêmulas, respiração ofegante e tom de voz alterado me perguntando “ O que você vai fazer com eles nas férias?!”
Oras, estava pensando em apenas deixa-los de férias. Precisa mais?
Não, eu não organizo programações especiais, nem viagens (sempre tão caras nessa época), nem passeios, nem acampamentos, nada, nadinha.
Quando foi mesmo que começamos a ter medo das férias escolares? Foi quando começamos a temer o simples fato de ter nossas crianças em tempo integral em casa? Foi quando decidimos que precisamos administrar tudo, até as brincadeiras deles, é isso?
Confesso que teve um ano que caí nessa armadilha, uma amiga virou pra mim, meio em pânico e me disse “ E aí, a Manú entra de férias quando? Vamos fazer o que?” , percebi que não havia pensando em nada, não havia me preocupado com isso e me cobrei. Tentei matricula-la em curso de culinária, pintura, futebol, capoeira, costureira. Me ferrei. Esses cursos não foram feitos em horários para mães que trabalham fora. A logística fica impossível. Chegava para busca-la na minha mãe e questionava “ o que ela fez hoje?” e minha mãe, sempre tão em posse da sua sabedoria, dava com os ombros em tom de deboche e falava “ué, nada! A menina não está de férias?” e eu não entendia e me cobrava “ Meu DEUS! Minha filha passou o dia todo, no alto dos seus 3,4 anos sem fazer NADA?! Que tipo de mãe eu sou?”
Passou.
Sei que o contexto da infância mudou. Mudaram os cenários, as influências, as trajetórias, mas tem uma coisa que permanece inalterada: a criança.
Criança foi, é e sempre será criança.
Ei,  chega mais perto, vou te contar um segredo: Acreditem neles, eles sabem se divertir.
Os meus estão na vó com as primas, babá e, por enquanto, com uma das Tias. Acordam quando querem, assistem até enjoarem da Peppa (é possível?), brincam, brigam, brigam, brincam, brigam. Do que? Sei lá do que! De tudo, de nada, com tudo que não podem e deixam de lado tudo que podiam. São crianças e isso basta. Confio que eles possuem competência para serem o que são. Não interfiro.
Se estivessem em casa comigo, como estivemos nas férias de julho, seria igual. Adoro passar o dia com eles na minha casa, na casa deles.
É certo que não acharia nada ruim de estar com todos em Nova York ou Fortaleza, mas não trato aqui da condição financeira de fazer e sim da cobrança em ter que fazer e do medo de ter que ficar.
Eu sinceramente desejo que os meus gastem o tempo deles tentando puxar o sol, tentando comer as nuvens e que não cavem nos vasos da minha mãe!!! Por favor!!
Curtam as férias deles e os deixem.
Fonte: Tenho 3
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