Neste dia 2 de abril, Dia Mundial da
Conscientização do Autismo, tudo o que eu desejo é isso. Que a gente
comece a mudar o mundo e a ensinar nossos filhos a conviver com a
diferença a partir da escola.
Quando recebemos o diagnóstico de autismo do nosso filho, aos 2
anos e 3 meses, a recomendação dos médicos e terapeutas foi unânime:
matricular o Tom na escola o quanto antes. A socialização no ambiente
escolar seria tão importante quanto as terapias para o desenvolvimento
dele. Naquele momento, mal poderíamos imaginar que ali começaria uma
peregrinação que seria mais difícil ainda de enfrentar do que o próprio
autismo.
Foram cinco escolas até que uma aceitou fazer a matrícula. Nem sei
como explica o quanto era frustrante e triste para nós. Aceitaram o Tom,
mas com uma série de restrições. Não poderíamos ter uma acompanhante
terapêutica, fundamental no caso dele. Descobrimos em pouco tempo que
nosso filho ficava peregrinando pelo pátio da escola sem o engajamento
necessário ou atendimento especializado. O material visual desenvolvido
pela nossa terapeuta para ajudá-lo a entender a rotina escolar ficava
guardado no armário, sem uso. Decidimos buscar outra escola. Em menos de
um ano, nosso filho já teria que experimentar uma mudança escolar, o
que já é difícil para qualquer criança, o que dizer para um autista.
Depois de muita pesquisa e indicações, conseguimos uma vaga. Na nova
escola fomos recebidos muito bem pela direção, que foi honesta: não
tinham experiência nem estavam preparados para receber o Tom. E lidar
com uma situação como essa causou imenso medo nos profissionais, que
chegaram a tentar nos convencer a buscar outra escola, mais adequada.
Mas que escola estaria preparada? Naquela altura, já sabíamos que
nenhuma. E nossa opção foi por ficar. E fizemos um pacto com a escola
que faríamos o processo de inclusão juntos. Professores, família e
terapeutas. Não esperávamos que tudo partisse deles. Afinal, nós também
não havíamos nascido preparados para ser pais de autista. Isso se
aprende. Fazendo, estudando, buscando informação.
O que foi diferente nessa escola? Os profissionais e diretores apenas
abriram a cabeça e seus corações para entender que ali havia uma
oportunidade de crescimento e desenvolvimento para todos. Não apenas
para o Tom. E lá se vão três anos de muitos debates, tentativas e erros e
acertos, para criarmos a tal inclusão que é garantida por lei, é
desejada por muitos, mas tão pouco de fato vivenciada. Hoje, aos 6 anos,
o Tom está totalmente adaptado à escola. Os colegas, funcionários e
outros pais recebem nosso filho como mais um, como igual. Tenho certeza
de que não foi só a escola que fez bem ao Tom, ele também transformou a
todos que convivem com ele. E hoje tenho certeza de que essa nossa
experiência poderia acontecer em qualquer escola. É uma questão de
querer. E tenho certeza de que o papel da escola é justamente esse: ser
um agente transformador da sociedade, a partir das crianças.
Neste dia 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, tudo
o que eu desejo é isso. Que a gente comece a mudar o mundo e a ensinar
nossos filhos a conviver com a diferença a partir da escola.
Silvia Ruiz Mangalya
Mãe do Tom – estudante do 1ºAno do Ensino Fudamental
Mãe do Tom – estudante do 1ºAno do Ensino Fudamental
Fonte: http://educacao.estadao.com.br/blogs/colegio-ofelia-fonseca/lugar-de-autista-e-na-escola-e-em-todo-lugar/
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