Sempre pensei que as crianças não precisam de tantos
brinquedos e que muitas vezes chegam a gostar mais da embalagem que o brinquedo
em si. Mas ser mãe me fez aprofundar nessa afirmação tão simples, refletir
sobre que materiais ofereço a meu filho, porque e que possibilidades de jogo
irá desenvolver com cada coisa que se encontra em seu caminho.
Na realidade, muitos brinquedos que ele ganhou, a empolgação acabou a partir do
segundo dia. Alguns tiveram ainda menos sorte e não provocaram o interesse nem
no momento em que ganhou. E alguns poucos brinquedos com mais sorte foram
brincados por horas um dia ou outro.
Qual o secreto para o êxito? Certamente o mais
importante é que esse brinquedo tenha alguma relação com seu destinatário,
tanto com seus interesses como com a etapa evolutiva em que ele se encontra.
Claro que a um bebe que está engatinhando, não iríamos presentar com uma bicicleta,
certo?
Mas a parte de observar qual o interesse da criança, considero que é importante que ao menos
vários dos materiais que uma criança tenha a seu alcance sejam “jogos” não
estruturados. Isto é, materiais que não tenham nenhum fim concreto. Com
isso me refiro a blocos de madeira, pedras, paus, caixas de papelão, etc. Como
você pode ver, não tem que ser um brinquedo. Ao contrário, os brinquedos estruturados
são aqueles que têm um fim concreto, onde o próprio material já indica para que
serve ( um quebra-cabeça, por exemplo), ou mesmo os jogos em que tem regras e
normas claras ( esportes de equipe, jogos de mesa, etc).
Mas por que é
importante oferecer materiais não estruturados? Porque quando damos brinquedos para as
crianças com um “design” muito específico (ferramentas de trabalho, copos e
pratos de brinquedo, carros com luzes e som, etc) muitas vezes não está
surgindo o “jogo simbólico” e sim o que é imitação: as crianças usam esses
materiais imitando o que fazem os adultos com eles e usando literalmente para o
que servem. Mas a brincadeira realmente simbólica nasce quando as crianças
brincam com alguma coisa diferente com um “material, brinquedo ou qualquer
engenhoca”, isto é, quando brincam que pedras são carrinhos ou essas mesmas
pedras se convertem em moedas, quando umas madeiras dão lugar a um ferro de
passar roupa ou um telefone.
Nessa foto da Lia Duran, a criança brinca com um arco e flecha com dois galhos de árvore. |
Abastecendo a todo tipo de
brincadeira, um para cada coisa e função ( compramos a cafeteira, as xícaras,
ou todo tipo de carrinhos e pistas, etc) estamos dificultando que nasça uma
brincadeira de criatividade e acaba que fica somente na imitação.
Não faz muito tempo, uma amiga me contou uma
história que me fez pensar e acho que tem relação com esse tema. Me disse que
quando observava sua filha brincando empolgada com alguma coisa de material não estruturado (
por exemplo, brincava com a tábua de passar roupa, usando um ferro de madeira)
se comprasse a tábua de passar de brinquedo, ela deixava de brincar disso. E
acho que precisamente é porque a brincadeira que ela fazia, o jogo simbólico
que ela brincava, desaparecia ao ter um ferro “de verdade” em suas mãos. Era
muito real e sobrava menos espaço para a imaginação
Claro que não estou defendendo que os brinquedos não são
úteis, necessários ou divertidos. Porque não se trata de escolher entre os “brinquedos estruturados” e “brinquedos não estruturados”. Sería
como dizer... Ofereço fruta ou verdura? Devo ler livros para meu filho com
muita imagem ou pouca? Pois com certeza,
todos são bons e tem importância em seu desenvolvimento, certo? Por isso
acredito que, junto com as brincadeiras clássicas de toda a vida que todos nós
temos em mente, o ideal é colocar ao alcance das crianças materiais não
estruturados.
Na realidade isso não requer muito da nossa parte porque
a coisa menos pensada serve para brincar. Inclusive sem nenhum material pode
surgir uma brincadeira não estruturada, somente com a imaginação.
Vou dar algumas ideais para que possam ver como os
materiais não estruturados podem ser de muitos tipos e qualidades.
Elementos da natureza:
Acho que a natureza é um lugar perfeito de brincar, onde nada
é estruturado. Como não tem brinquedos nela, as crianças se abastecem dela para
brincar e usar a imaginação.
Costumam brincar com:
·
Galhos
·
Pedras
·
Folhas
·
Conchas
Materiais recicláveis
Na realidade, qualquer objeto serve para brincar usando a
imaginação, inclusive aqueles que para os adultos não tem nenhuma finalidade e
vão para o lixo. Por exemplo:
·
Tampas
de garrafa
·
Rolhas
·
Rolo
do papel higiênico e papel toalha
·
Caixas
de papelão
Materiais comprados
Por sorte, cada vez mais marcas e fabricantes estão
elaborando materiais não estruturados, que tem um “design” cuidadoso, com
matéria prima de qualidade. Materiais que em si não são nada, mas que através
da imaginação da criança se converte no que precisam.
Materiais Grimms |
Recentemente, conheci através do Instagram, a GRAPAT, uma
nova marca espanhola que faz coisas tão lindas... Todas, com a ideia de ser
elementos livres para brincar.
Também existem muitas marcas diferentes que fabricam eco
blocos. Em casa fazem o maior sucesso. Serve para fazer torres, criar casas,
muralhas, qualquer bloco de madeira pode se transformar em um carrinho, uma
pessoa, etc.
BENEFÍCIOS DAS BRINCADEIRAS NÃO ESTRUTURADAS
Gostaria de acabar esse artigo resumindo que esse tipo de
materiais tem um monte de benefícios para a criança:
Estimula o
pensamento criativo:
esse tipo de objeto não tem uma função clara assim que é a criança quem deve
dar uma finalidade a eles e criar as histórias que quiser.
Se modificam de acordo a
etapa de desenvolvimento da criança: como esse tipo de material não tem uma finalidade
concreta e tão pouco está elaborada, vão
acompanhar a criança durante mais anos porque se adaptam a seu desenvolvimento
e a suas mudanças de interesse
Este ano, por exemplo, minha filha e eu estamos passando
algumas manhãs da semana com outras famílias que tem filhos mais velhos.
Costumamos ir a um parque da cidade e observo como todas as crianças disfrutam
do passeio mas cada uma usa aquilo que tem a seu alcance de uma forma
diferente. Minha filha costuma brincar de fazer buracos na areia, e castelos
com a areia que vai cavando. Uma amiga sua, de 9 anos, costuma usar a areia e a
terra como uma arqueóloga. Adoro vê-la peneirando a areia com sua micro
peneirinha, ou fazendo um caminho em volta de uma pedra para passar um carrinho.
Evita a
estimulação excessiva:
não tem luzes nem som, portanto, não tem estímulos externos, assim tem que sair
de dentro da criança. Às vezes pensamos que se um brinquedo não é bastante
estimulante... A criança vai ficar entediada. Pois genial! O tédio é um cenário
magnífico para que a imaginação apareça em cena.
Com certeza muitos de vocês já tem esse tipo de material
em casa. Para quem não tem, lhes animo a coletar, reciclar ou mesmo comprar
todo tipo de elementos e permitir que seus filhos os usem sem instruções ou
direções. Não tem nada mais gratificante que ver os pequenos criando mundos
fantásticos e histórias incríveis praticamente do nada.
Como material
menos pensado, com os elementos mais simples, a magia da brincadeira acontece.
Um abraço,
Clara
Texto traduzido e adaptado por Jordana Balduino, do
projeto “Criança em Questão”
Fonte: http://www.tierraenlasmanos.com/jugar-con-materiales-no-estructurados/
Artigo muito interessante.
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