terça-feira, 2 de outubro de 2018

Criança não tem que querer ou criança é cheia de querer?


Criança cheia de querer. Assim mesmo, criança é cheia de querer e isso não é de todo mau. Criança sabe o quer.
“Eu quero a tinta verde”, “Eu adoro suco”, “Eu quero a massinha rosa”, “ Quero brincar de bola”. Essas foram algumas das várias frases que escutei de crianças de 2 e 3 anos durante meu estágio em um Cmei. Crianças que são protagonistas do seu processo de desenvolvimento e aprendizagem, que sabem o que querem e são atendidas, dentro do possível. Estes serzinhos tão pequenininhos são vistos como inocentes, como aqueles que não sabem de nada e, por isso devem ser ensinados. A questão é: já se passaram um, dois, três anos nos quais eles aprendem diversas coisas, experimentam coisas novas todos os dias e delimitam gostos e desgostos, então será que eles não realmente não sabem o querem?
É comum crianças escutarem: você não sabe o que você quer, não sabe o que pode ou não fazer, sou em quem mando e você só obedece. É claro que as crianças ainda têm muito a aprender sobre as regras sociais, sobre quem ela é, sobre o que é certo ou errado, mas é necessário que ela tenha participação ativa em seu processo de aprendizagem. Acreditamos que a criança deva ter voz e vez em seu processo educativo, mas que deve sempre haver um adulto realizando uma mediação.
O protagonismo da criança é importante para a sua aprendizagem. Ela pode sim escolher quais músicas quer cantar, do que quer brincar, quais histórias quer ouvir etc. Essa escolha é importante para seu processo de autonomia e aprendizagem. Muitas vezes não se escuta as crianças, não confirmam o que ela sente, falam que não é bem assim como ela está vendo, ou seja, não dão credibilidade ao que ela sente, fala ou pensa pelo simples fato de serem crianças.
Porém, quando busca-se atender todos os desejos delas sem limites, as crianças não aprendem ou não respeitam as regras sociais, tão necessárias à convivência em sociedade, além de não aprenderem a tolerar e lidar com a frustração. Ou seja, é preciso mediar esse incessante querer com a necessidade de internalização das regras sociais, possibilitando que a criança seja protagonista e, ao mesmo tempo, limitá-la. Essa mediação deve levar em conta a criança, a família, as condições sociais, econômicos, raciais, de gênero. Isto é, não há como estabelecer um modelo em comum para todas.
De acordo com a Proposta Político Pedagógica da Rede Municipal de Educação de Goiânia é preciso proporcionar para as crianças um espaço de escuta, de comunicação e de diálogo a fim de que elas possam ser ativas naquilo que elas já são capazes de realizar sozinhas e que lhes são tão caras, e garantir sua posição enquanto sujeito de direitos.

É preciso que a criança tenha esse espaço na escola, em casa, ou em qualquer outro lugar que esta se insira, tanto nos momentos de cuidado e/ou brincadeira. Ou seja, que ela seja escutada na sua subjetividade, com o seu querer sim, mesmo que ele não possa e muitas vezes não deva ser atendida. Até porque, criança pode até não ser gente grande, mas é cheia de querer.

Nayara Feitosa (Graduanda de Psicologia - UFG e estagiária de Licenciatura em Psicologia)
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