quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Devo ser afetivo com meu aluno?


      Os objetivos da Educação infantil podem ser compreendidos de diferentes formas. Ainda hoje, muitos compreendem esta etapa da Educação como um momento de passatempo, diversão. Outros, na busca por estimular e desenvolver a criança cada vez mais cedo, podem dar ênfase ao ensino, aos mecanismos de aprendizagem da criança. Todavia, em uma perspectiva histórico-cultural, percebe-se que o fenômeno educativo se pauta, em todas suas diversas fases, em uma questão de relação social, relação mediada, relação professor-aluno. Neste sentido, ao se falar de processo de ensino-aprendizagem, estamos falando de um adulto que, apropriado das construções culturais, torna-se intencionalmente o mediador das apropriações que a criança irá realizar. Assim, estamos falando também de vínculo, e por que não de afetividade?!
      Sim, uma relação de um professor com seu aluno é, sobretudo, uma relação humana e o afeto deve se fazer presente. Pode-se afirmar que a criança não aprende de qualquer um, mas sim de alguém em quem ela deposita confiança. O vínculo inicia-se na relação familiar, nos primeiros contatos afetivos da criança com seu cuidador. Inicialmente, é através de uma forma de comunicação emocional que o bebê mobiliza o adulto, garantindo assim os cuidados de que necessita. Conforme a criança vai se desenvolvendo as trocas afetivas vão ganhando complexidade, não se limitando apenas às manifestações de carinho e cuidado físico, mas atingindo o campo da linguagem e do simbólico.
      O vínculo afetivo que inicialmente ocorre entre pais e filho se amplia com a entrada da figura do Educador. Este novo vínculo não tem função de substituir o primeiro, mas sim de ampliar as possibilidades de interação do sujeito, contribuindo para o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Muitos ainda ignoram, buscando friamente se defender do contato com o outro, com os seus alunos. Esta defesa talvez se fundamente em um medo de se implicar, de se comprometer, o que gera uma barreira protetora, uma calosidade profissional. A questão é que não serei eu, professor, menos profissional por ser afetivo, muito pelo contrário, visto que é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criança que sustenta fundamentalmente a etapa inicial do processo de aprendizagem. Wallon, um dos teóricos da psicologia do desenvolvimento, já ressaltava a forte relação entre a aprendizagem e a afetividade. Para ele é possível atuar no cognitivo através afetivo e vice-versa, pois condições afetivas favoráveis facilitam a aprendizagem.
     Sem medo de recair em uma relação de meros cuidados ou mesmo de um vínculo quase “familiar”, o educador não deve confundir afetividade com maternagem ou “mimos”. O afeto na relação educador-criança está no respeito, na proximidade, no reconhecimento da produção da criança e na valorização de seus avanços. Se o processo de aprendizagem é social, o que se faz, como se diz, quando se diz, o por quê se diz AFETAM a relação com a criança, seu aprendizado e desenvolvimento. Então, não há como ignorar! O próprio ignorar já está afetando...


Referência: TASSONI, E. C. M. Afetividade e Aprendizagem: a relação professor-aluno. UNICAMP: São Paulo, 2000
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