Os objetivos da Educação infantil podem ser compreendidos de diferentes formas. Ainda hoje, muitos compreendem esta etapa da Educação como um momento de passatempo, diversão. Outros, na busca por estimular e desenvolver a criança cada vez mais cedo, podem dar ênfase ao ensino, aos mecanismos de aprendizagem da criança. Todavia, em uma perspectiva histórico-cultural, percebe-se que o fenômeno educativo se pauta, em todas suas diversas fases, em uma questão de relação social, relação mediada, relação professor-aluno. Neste sentido, ao se falar de processo de ensino-aprendizagem, estamos falando de um adulto que, apropriado das construções culturais, torna-se intencionalmente o mediador das apropriações que a criança irá realizar. Assim, estamos falando também de vínculo, e por que não de afetividade?!
Sim, uma relação de um professor com seu aluno é, sobretudo, uma relação humana e o afeto deve se fazer presente. Pode-se afirmar que a criança não aprende de qualquer um, mas sim de alguém em quem ela deposita confiança. O vínculo inicia-se na relação familiar, nos primeiros contatos afetivos da criança com seu cuidador. Inicialmente, é através de uma forma de comunicação emocional que o bebê mobiliza o adulto, garantindo assim os cuidados de que necessita. Conforme a criança vai se desenvolvendo as trocas afetivas vão ganhando complexidade, não se limitando apenas às manifestações de carinho e cuidado físico, mas atingindo o campo da linguagem e do simbólico.
O vínculo afetivo que inicialmente ocorre entre pais e filho se amplia com a entrada da figura do Educador. Este novo vínculo não tem função de substituir o primeiro, mas sim de ampliar as possibilidades de interação do sujeito, contribuindo para o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Muitos ainda ignoram, buscando friamente se defender do contato com o outro, com os seus alunos. Esta defesa talvez se fundamente em um medo de se implicar, de se comprometer, o que gera uma barreira protetora, uma calosidade profissional. A questão é que não serei eu, professor, menos profissional por ser afetivo, muito pelo contrário, visto que é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criança que sustenta fundamentalmente a etapa inicial do processo de aprendizagem. Wallon, um dos teóricos da psicologia do desenvolvimento, já ressaltava a forte relação entre a aprendizagem e a afetividade. Para ele é possível atuar no cognitivo através afetivo e vice-versa, pois condições afetivas favoráveis facilitam a aprendizagem.
Sem medo de recair em uma relação de meros cuidados ou mesmo de um vínculo quase “familiar”, o educador não deve confundir afetividade com maternagem ou “mimos”. O afeto na relação educador-criança está no respeito, na proximidade, no reconhecimento da produção da criança e na valorização de seus avanços. Se o processo de aprendizagem é social, o que se faz, como se diz, quando se diz, o por quê se diz AFETAM a relação com a criança, seu aprendizado e desenvolvimento. Então, não há como ignorar! O próprio ignorar já está afetando...
Por Stéfany Bruna
Referência: TASSONI, E. C. M. Afetividade e Aprendizagem: a relação professor-aluno. UNICAMP: São Paulo, 2000
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