segunda-feira, 6 de junho de 2016

Por que as crianças precisam brincar com materiais não estruturados?


 Sempre pensei que as crianças não precisam de tantos brinquedos e que muitas vezes chegam a gostar mais da embalagem que o brinquedo em si. Mas ser mãe me fez aprofundar nessa afirmação tão simples, refletir sobre que materiais ofereço a meu filho, porque e que possibilidades de jogo irá desenvolver com cada coisa que se encontra em seu caminho.
Na realidade, muitos brinquedos que ele  ganhou, a empolgação acabou a partir do segundo dia. Alguns tiveram ainda menos sorte e não provocaram o interesse nem no momento em que ganhou. E alguns poucos brinquedos com mais sorte foram brincados por horas um dia ou outro.
Qual o secreto para o êxito? Certamente o mais importante é que esse brinquedo tenha alguma relação com seu destinatário, tanto com seus interesses como com a etapa evolutiva em que ele se encontra. Claro que a um bebe que está engatinhando, não iríamos presentar com uma bicicleta, certo?
Mas a parte de observar qual o interesse da criança,  considero que é importante que ao menos vários dos materiais que uma criança tenha a seu alcance sejam “jogos” não estruturados. Isto é, materiais que não tenham nenhum fim concreto. Com isso me refiro a blocos de madeira, pedras, paus, caixas de papelão, etc. Como você pode ver, não tem que ser um brinquedo. Ao contrário, os brinquedos estruturados são aqueles que têm um fim concreto, onde o próprio material já indica para que serve ( um quebra-cabeça, por exemplo), ou mesmo os jogos em que tem regras e normas claras ( esportes de equipe, jogos de mesa, etc).

Mas por que é importante oferecer materiais não estruturados? Porque quando damos brinquedos para as crianças com um “design” muito específico (ferramentas de trabalho, copos e pratos de brinquedo, carros com luzes e som, etc) muitas vezes não está surgindo o “jogo simbólico” e sim o que é imitação: as crianças usam esses materiais imitando o que fazem os adultos com eles e usando literalmente para o que servem. Mas a brincadeira realmente simbólica nasce quando as crianças brincam com alguma coisa diferente com um “material, brinquedo ou qualquer engenhoca”, isto é, quando brincam que pedras são carrinhos ou essas mesmas pedras se convertem em moedas, quando umas madeiras dão lugar a um ferro de passar roupa ou um telefone.

Nessa foto da Lia Duran, a criança brinca com um arco e flecha com dois galhos de árvore.


Abastecendo a todo tipo de brincadeira, um para cada coisa e função ( compramos a cafeteira, as xícaras, ou todo tipo de carrinhos e pistas, etc) estamos dificultando que nasça uma brincadeira de criatividade e acaba que fica somente na imitação.
Não faz muito tempo, uma amiga me contou uma história que me fez pensar e acho que tem relação com esse tema. Me disse que quando observava sua filha brincando empolgada  com alguma coisa de material não estruturado ( por exemplo, brincava com a tábua de passar roupa, usando um ferro de madeira) se comprasse a tábua de passar de brinquedo, ela deixava de brincar disso. E acho que precisamente é porque a brincadeira que ela fazia, o jogo simbólico que ela brincava, desaparecia ao ter um ferro “de verdade” em suas mãos. Era muito real e sobrava menos espaço para a imaginação
Claro que não estou defendendo que os brinquedos não são úteis, necessários ou divertidos. Porque não se trata de escolher entre os “brinquedos estruturados” e “brinquedos não estruturados”. Sería como dizer... Ofereço fruta ou verdura? Devo ler livros para meu filho com muita imagem ou pouca?  Pois com certeza, todos são bons e tem importância em seu desenvolvimento, certo? Por isso acredito que, junto com as brincadeiras clássicas de toda a vida que todos nós temos em mente, o ideal é colocar ao alcance das crianças materiais não estruturados.
Na realidade isso não requer muito da nossa parte porque a coisa menos pensada serve para brincar. Inclusive sem nenhum material pode surgir uma brincadeira não estruturada, somente com a imaginação.
Vou dar algumas ideais para que possam ver como os materiais não estruturados podem ser de muitos tipos e qualidades.
Elementos da natureza:
Acho que a natureza é um lugar perfeito de brincar, onde nada é estruturado. Como não tem brinquedos nela, as crianças se abastecem dela para brincar e usar a imaginação.
Costumam brincar com:
·         Galhos
·         Pedras
·         Folhas
·         Conchas
Os galhos da foto formam parte da nossa coleção. A foto já é antiga, prometo que a coleção aumentou alarmante... E até eu contribuo com ela. Vejo um galho no parque e penso... com este faremos isso, com aquele , faremos aquilo...


Materiais recicláveis
Na realidade, qualquer objeto serve para brincar usando a imaginação, inclusive aqueles que para os adultos não tem nenhuma finalidade e vão para o lixo. Por exemplo:
·         Tampas de garrafa
·         Rolhas
·         Rolo do papel higiênico e papel toalha
·         Caixas de papelão

Materiais comprados
Por sorte, cada vez mais marcas e fabricantes estão elaborando materiais não estruturados, que tem um “design” cuidadoso, com matéria prima de qualidade. Materiais que em si não são nada, mas que através da imaginação da criança se converte no que precisam.
Materiais Grimms
  Recentemente, conheci através do Instagram, a GRAPAT, uma nova marca espanhola que faz coisas tão lindas... Todas, com a ideia de ser elementos livres para brincar.



Também existem muitas marcas diferentes que fabricam eco blocos. Em casa fazem o maior sucesso. Serve para fazer torres, criar casas, muralhas, qualquer bloco de madeira pode se transformar em um carrinho, uma pessoa, etc.



BENEFÍCIOS DAS BRINCADEIRAS NÃO ESTRUTURADAS
Gostaria de acabar esse artigo resumindo que esse tipo de materiais tem um monte de benefícios para a criança:
Estimula o pensamento criativo: esse tipo de objeto não tem uma função clara assim que é a criança quem deve dar uma finalidade a eles e criar as histórias que quiser.
Se modificam de acordo a etapa de desenvolvimento da criança: como esse tipo de material não tem uma finalidade concreta e tão pouco está  elaborada, vão acompanhar a criança durante mais anos porque se adaptam a seu desenvolvimento e a suas mudanças de interesse
Este ano, por exemplo, minha filha e eu estamos passando algumas manhãs da semana com outras famílias que tem filhos mais velhos. Costumamos ir a um parque da cidade e observo como todas as crianças disfrutam do passeio mas cada uma usa aquilo que tem a seu alcance de uma forma diferente. Minha filha costuma brincar de fazer buracos na areia, e castelos com a areia que vai cavando. Uma amiga sua, de 9 anos, costuma usar a areia e a terra como uma arqueóloga. Adoro vê-la peneirando a areia com sua micro peneirinha, ou fazendo um caminho em volta de uma pedra para passar um carrinho.
Evita a estimulação excessiva: não tem luzes nem som, portanto, não tem estímulos externos, assim tem que sair de dentro da criança. Às vezes pensamos que se um brinquedo não é bastante estimulante... A criança vai ficar entediada. Pois genial! O tédio é um cenário magnífico para que a imaginação apareça em cena.


Torre em construção com cimento (areia e água) e madeira. Adoro quando as crianças inventam coisas assim.


Com certeza muitos de vocês já tem esse tipo de material em casa. Para quem não tem, lhes animo a coletar, reciclar ou mesmo comprar todo tipo de elementos e permitir que seus filhos os usem sem instruções ou direções. Não tem nada mais gratificante que ver os pequenos criando mundos fantásticos e histórias incríveis praticamente do nada.
Como material menos pensado, com os elementos mais simples, a magia da brincadeira acontece.

Um abraço,
Clara

Texto traduzido e adaptado por Jordana Balduino, do projeto “Criança em Questão”
Fonte: http://www.tierraenlasmanos.com/jugar-con-materiales-no-estructurados/
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