segunda-feira, 25 de junho de 2018

Meu filho tem amigos imaginários, e agora?


Loucura? Solidão? Timidez? Nada disso! Os amigos imaginários são fenômenos comuns da infância, relacionados ao faz-de-conta e dizem muito sobre a criatividade e a imaginação das crianças. Por muito tempo foram considerados (erroneamente) enquanto característicos de crianças tímidas, com falta de habilidades sociais ou até mesmo esquizofrenia…
Ter um amigo desses demanda muita imaginação e inteligência, fazendo com que as crianças explorem ao máximo suas potencialidades criativas! Eles podem ser brinquedos ou não existirem visivelmente, durar alguns dias ou meses, podendo inclusive variar em quantidade (uma menina, duas girafas, um exército de marcianos…). Às vezes não são tão amigáveis assim, armando pegadinhas e fazendo com que a criança compre mais cartas no UNO…
Podem servir como companhia, diversão, conforto emocional, enfrentamento do medo e barganha - levando a culpa pela bagunça da criança, por exemplo.  Ajudam no desenvolvimento cognitivo da criança, permitindo com que desenvolvam o pensamento abstrato, compreensão das relações sociais e desenvolvimento da criatividade.
A brincadeira colabora essencialmente no desenvolvimento da criança, o que faz com que esse fenômeno seja tão rico na infância e a auxilie a lidar com as demandas da escola, família e suas próprias necessidades. Ainda são necessários mais estudos que abranjam o perfil das crianças brasileiras e suas formas de expressão, bem como outras perspectivas de Psicologia…
Se um amigo imaginário bater à sua porta, não se assuste… guarde o seu lugar no sofá e vamos começar a brincadeira!

Conheça também A Sociedade dos Amigos Imaginários, um projeto que visa dar suporte emocional e educativo a crianças com câncer da Pediatric Brain Tumor Foundation, por meio de vídeos com seres imaginários  (ainda em inglês).

Indicações para a leitura:
“Imaginary Companions and the Children who Create Them” de Marjorie Taylor

“A criação de amigos imaginários: Um estudo com crianças brasileiras” de Natália Velludo

Autor: Diego Braga Melo (Graduando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás)

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Os encantos de uma criança sapeca: Um mero deslumbre ou uma armadilha para a atuação?

* Dandara da Cruz Vieira



Início de observação de estágio no CMEI. Agrupamento das crianças de dois anos. Nove rostinhos pequetuxos, com olhares inocentes e desconfiados tentado decifrar o que seria aquela nova figura na sala de aula. “Vamos dizer “Oi!” para a tia Dandara?!”, convidou a professora. No entanto, poucos se dispuseram ao cumprimento envolvidos pela timidez. Nem liguei, pois era uma timidez tão fofa que qualquer um com um fofurômetro apurado se daria mais do que satisfeito com aquele breve “vácuo”.
Feitos os protocolos iniciais, participei das atividades para me aproximar mais do grupo. Participei da hora das cantigas de roda, da hora do livro e do momento do parquinho. Em todas as atividades, uma figurinha específica se destacou em meio às outras. Gabriela. Uma menininha sapeca de bochechinhas sedutoras e conversinha invocada que prendia muito a atenção da professora e da auxiliar. A Gabriela estava em todas. Se tinha uma situação engraçada, lá estava a Gabriela. Se tinha uma situação que requisitava a atenção das crianças, a primeira a ser chamada era a Gabriela. Se tinha uma situação de desentendimento entre coleguinhas, lá estava a Gabriela. Até as broncas direcionadas à Gabriela eram mais “adocicadas”, se comparada com as direcionadas às outras crianças. Tal observação me causou certo incômodo, pois percebi que esse favoritismo diferenciava e limitava o modo como as outras crianças interagiam naquele espaço.
Passei a indagar-me sobre o assunto e, de início, fui tomada por uma certa revolta. Pensei: “Afinal, como professora e auxiliar se permitem cumprir esse papel de negligência? É dever do educador se portar de modo a atender TODAS as crianças de modo equivalente para que as condições que propiciam um desenvolvimento saudável sejam alcançadas. Que olhar insensível, o delas. Que formação deficitária foi essa?”. De fato, aquilo me preocupava. 
Posteriormente, entretanto, relendo meu caderno de anotações sobre a observação, deparei-me com uma garatuja em uma das páginas, o que me fez lembrar de uma situação ocorrida no momento do parquinho. Eu estava sentada na mureta que cercava o parquinho enquanto observava as crianças e aproveitava para fazer algumas anotações. Num dado momento, três meninas se aproximaram de mim com curiosidade. Uma delas perguntou: “O que você está fazendo?” (Lê-se com voz de uma criança de dois anos). “Estou anotando”, respondi, mostrando a elas o meu caderno. Uma delas se aproximou mais, fazendo como se quisesse pegar o caderno. Perguntei a ela se ela queria anotar também. Ela respondeu que sim. Entreguei a caneta a ela que, em seguida, se pôs a “anotar”. Enquanto ela anotava, eu instigava as outras duas: “O que é isso que ela está desenhando?’’ “Um saco de lixo”; “Uma bola”, palpitavam elas. Ficamos ali por um tempo. Só a chamada para o jantar me fez dispersar delas e elas de mim. Mas, algo interessante me saltou os olhos ao me pegar lembrando desta situação. De todo o ocorrido, nada me extasiava mais do que aquelas bochechinhas sedutoras e conversinha invocada envolvidas naquele ar de sapequice pura. “Como que pode ser tão fofa, gente?”, indagava-me com cara de boba. Siim, é isso mesmo que você está pensando! Fui pega pelo canto fofuresco e encantador da Gabriela. 
Neste momento, aquela revolta inicial deu lugar a um sentimento de empatia. Afinal, como não ceder aos encantos daquele pedacinho de gente tão gracioso? Como não me render aos encantos daquela fofurinha de modo a negligenciar atenção e dedicação similar as outras crianças? São questões às quais é difícil estabelecer uma resposta fechada assim como todas as que permeiam o campo da subjetividade humana. Não há receita. É legítimo que via constituição individual nos identifiquemos e/ou estabelecemos mais vínculo com uns do que com outros. Isso determina o campo no qual a afetividade, necessária para a aprendizagem de modo geral, emerja. Penso que o que não podemos perder de vista é o papel que nós, atuantes na educação infantil, devemos desempenhar para que o desenvolvimento destas crianças seja efetivo e autêntico. Produzir um olhar cada vez mais sensível e atento para possíveis contradições a partir do que respalda o Projeto Político Pedagógico da rede a qual está inserida. Para tanto, é imprescindível que avaliemos nossa prática constantemente.
Vale ressaltar, também, que toda reflexão é legítima. Permita-se indagar sobre o que observa no contexto pedagógico mesmo que seja para se pegar em contradição, como foi o meu caso (risos). Perceba, escreva, se coloque. Esta é uma ótima via para o surgimento de novas perspectivas, novas intervenções e novos caminhos.


Referência: Infâncias e Crianças em Cena: por uma Política de Educação Infantil para a Rede Municipal de Educação de Goiânia / Secretaria Municipal de Educação - Goiânia: SME, DEPE, DEI, 2014. 232p. : II.

*Nome fictício para preservar a identidade da criança.


* Dandara da Cruz Vieira é graduanda 
de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Como um “diário de campo” me salvou

* Marianna Cruz



É isso mesmo que você está lendo no título: como um “diário de campo” me salvou. Ou, dito de outra forma, como um diário de campo me impediu de sair correndo pelo portão daquele CMEI e voltasse ao conforto de meus livros, textos, e, sobretudo, do site mais visitado de todos os tempos pelos estudantes: o sinônimos. Naqueles muros, saber palavras bonitas - e, as vezes, até pretensiosas -, não valia de nada. Admito: pensei minuciosamente qual roupa usaria aquele dia, “não, não, essa calça é escura demais, não combina” “já esta aqui é muito clara, vou me sujar no primeiro dia” “ah essa....não serve para mim já tem pelo menos uns dois anos”, “o que vão pensar de mim se eu for com essa aqui?”. Depois de muitos embates e diálogos travados comigo mesma: escolhi. Minto: escolhi uns segundos antes de sair de casa, após o desespero de olhar no aplicativo que meu ônibus já ia passar. Pensei minuciosamente qual roupa usaria aquele dia, mas acabei, no impulso, vestindo outra. Tudo bem. Eu saí com pressa para não perder o ônibus. Ultimamente ando fazendo tudo com presa. Exceto escolher com qual roupa eu vou. Isso me dá mínima possibilidade de controle. Assim foi com meu “diário de campo”. Bom, vou chamá-lo de caderninho, porque neste processo, nos tornamos íntimos. Eu e meu caderninho. Quase que houve uma fusão entre nós. Cheguei no CMEI: eu, minha roupa minuciosamente pensada e meu caderninho. O que faria com isso? Já sei: vou sair correndo! Mas, já fecharam o portão. Essa opção já não é tão viável. Teria que pedir para que abrissem o portão, e aí sim poderia sair correndo. Tudo bem. Respirei e, eu, minha roupa minuciosamente pensada, e meu caderninho fomos para o tal do agrupamento. Vou chamá-lo de o tal do agrupamento, pois não poderia conferi-lo qualquer tipo de intimidade, esta estava direcionada unicamente para: minha roupa minuciosamente pensada e meu caderninho. Se tirasse isso, sobraria uma reportagem: estagiária de psicologia da universidade federal de goiás pula o muro do CMEI após seu primeiro dia na instituição. Bom, se isso acontecesse, pelo menos, minha roupa estava minuciosamente pensada. Não era escura demais, nem clara demais. E cabia perfeitamente em mim. No tal do agrupamento, sentei naquela cadeira com um tamanho esquisito. Era pequena. Tamanho de criança, ao certo. Mas, achei esquisita. Tudo bem: sentei com meu caderninho. Depois de um tempo, uma criatura, tão pequena quanto aquela cadeira, sentou-se do meu lado. Ficou olhando para mim. Nem tentava disfarçar. Que bicho estranho esse chamado “criança”. Sentam-se em cadeiras minúsculas. E não disfarça ao olhar. Nunca vi isso. Ou, se vi, esqueci. Ainda bem que eu estava protegida daquilo, com minha roupa minuciosamente pensada e meu caderninho. Logo após, aquele amontoado de bichinhos chamado “criança”, saíram para brincar. Fui observar. Como um cientista positivista e seu diário de campo. Só que, no meu caso, com o caderninho. Neutra, assim como a cor de minha calça, minuciosamente pensada. Perguntava. Escrevia. Era isto. Descobri o que deveria fazer: perguntar e anotar quase tão velozmente quanto eu corria para não perder o ônibus todo dia de manhã; quase tão velozmente quanto eu queria sair correndo daquele lugar; era isto. Deveria ser só isso. Até um daqueles bichinhos se aproximar da minha arma mais fundamental: meu caderninho. Ela puxava meu caderninho. E rabiscava-o. Eu não sei se ficava mais abismada com aquela criatura destruindo minhas defesas ou, de descobrir que, mesmo sem meu caderninho, eu continuava em pé. Isso. Em pé. Aquela criança, e, curiosamente - ou não -, a mesma criança que me olhava no momento anterior, me ensinou que eu poderia estar ali sem o meu caderninho. Foi uma separação difícil, não nego. O “diário de campo”, e posso chamá-lo assim agora, me salvou de não sair correndo, mas aquele bichinho chamado “criança”, tão pequena quanto a cadeira que anteriormente me sentava, me possibilitou olhar com meus olhos aquilo que ultrapassa meus livros, textos, palavras, pretensiosas ou não. O olhar de verdade.

* Marianna Cruz é  é graduanda de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Corpos limitados e limitantes? Uma reflexão sobre a autonomia em crianças com Síndrome de Down

Larissa Carvalho*

   

Não é raro que a chegada de uma criança com Síndrome de Down, seja na família ou na escola, se torne fonte de angústia. Muitas das informações que circulam sobre a síndrome expressam uma limitação física que impossibilitaria todo o desenvolvimento da criança. Sendo assim, restaria aos cuidadores atuar sempre pela criança, que nunca seria capaz de agir para si. No entanto, é preciso nos perguntarmos se essas conclusões são, de fato, verdadeiras.
Vigotski nos ajuda a refletir sobre esse tema ao dizer que síndromes ou deficiências por si só não aprisionam; que é a partir das relações sociais que aparecem ou não possibilidades na aprendizagem e no desenvolvimento. Isto é, dizemos de uma limite inicial do corpo, mas dependendo do conjunto social onde está, a criança aprende novas formas de viver e se desenvolve potencialmente. Assim, mesmo apresentando a síndrome, cada pessoa a vivencia de sua maneira singular, de acordo com seus relacionamentos no ambiente familiar, escolar…
O vídeo abaixo demonstra estes diferentes modos de lidar com o mundo das pessoas com Síndrome de Down frente à diferentes relações:


Por isso, é possível e necessário falar em promoção de autonomia em crianças com Síndrome de Down. Ainda que o cuidado seja fundamental, o excesso de proteção retira possibilidades da criança de se desenvolver. Incentivar, no tempo da criança, a realizar tarefas simples, apoiando-na naquilo que se apresenta como dificuldade é essencial. Não fazer pela criança ou oferecer instruções complicadas, e sim apresentar exemplos simples e visuais são formas de buscar a independência da criança em suas atividades.
Se não há espaço para explorar as próprias necessidades, a criança não trilha os próprios caminhos, crescendo dependente, não autônoma. E isso pode trazer muito sofrimento. Não se trata de uma cobrança para que as crianças façam tudo que o esperado para a idade, uma vez que mesmo sem qualquer síndrome ou deficiência cada criança tem o seu processo próprio de aprendizagem. Na verdade, propomos pensar em autonomia como uma defesa do direito da criança com Síndrome de Down ser, em suas qualidades únicas.

Referência:

Vigostki, L. S. (2011). A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da criança anormal. Educação e Pesquisa, 37(4), pp. 861-870.


* Larissa Carvalho é graduanda de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Natureza: o melhor brinquedo para a criança


Dê às crianças um brinquedo chamado natureza. Ofereça à elas oportunidades que propiciem o exercício da imaginação, a criatividade; oportunidades de criar seus próprios brinquedos com materiais naturais que possam ser explorados de diversas formas, que possam ser transformados naquilo que a brincadeira das crianças quiser. (Um brinquedo chamado natureza)

O vídeo abaixo retrata um pouco sobre a importância da relação da criança com a natureza. Em entrevista ao projeto Criança e Natureza, o instrutor de atividades ao ar livre, Fabio Raimo, apresenta de forma simples e objetiva os benefícios de uma infância rica em natureza para o desenvolvimento físico e psíquico da criança, ampliando sua curiosidade e seu conhecimento sobre o mundo, sobre si própria e sobre o outro.




Saiba mais sobre o projeto: https://criancaenatureza.org.br/ 
Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial