Ouvi um burburinho, parecia que eles estavam planejando alguma coisa. Sai de fininho de dentro de casa para eles não me ouvirem. De repente ouço uma gargalhada bem alta, que sorriso contagiante eles tinham.
Estão aprontando alguma - pensei.
Continuei observando, crianças no fundo do quintal. Era com certeza a imagem mais bela que meus velhos olhos já tinham experimentado.
Lembrei da minha infância e como mamãe gritava para entrar quando já estava escurecendo.
Deixa a gente brincar mais um pouco - sempre protestávamos.
Não, já está tarde e vocês estão uma sujeira que só- mamãe respondia.
Cheguei na pontinha dos peś para observar a brincadeira. Debaixo de uma grande árvore, a terra se tornava mar e as crianças peixinhos a nadar.
Elas me viram, falei baixinho: Não quero incomodar, continuem, não parem de brincar.
Vem brincar com a gente - eles me chamaram
Não, não, a tia já está velha não brinca mais- eu disse com a voz embargada, desejosa de ser criança novamente e poder experimentar daqueles momentos incríveis.
Eu vi aqueles pequeninos correrem em minha direção, me puxarem pelos braços para dentro do mundinho mágico deles. Eu não precisava ser pequena, passar por pontes ou ultrapassar grandes obstáculos para estar ali. Era preciso apenas me jogar, participar da imaginação deles, brincar de verdade.
Uma das crianças vendo o quanto eu me divertia imitando tubarões ou tartarugas, produzindo ondas naquele pequeno grande mar ou nadando como um peixinho, me olhou atentamente e com sua voz doce me disse:
Tia, você é grande mas continua criança. Meu pai também diz que adulto não brinca mais, mas eu insisto tanto que ele vai brincar comigo. Quando ele brinca dá para ver que ele adulto, não entende nada de brincadeira. Você não, você brinca de verdade.
Eu sou adulto brincante - respondi à ela.
Reconheci verdade na fala daquela criança e estabeleci uma meta para minha vida: mostrar aos adultos o mundo mágico da brincadeira, o quanto eles podem se divertir com as crianças, como momentos de brincadeira com as crianças podem proporcionar desenvolvimento para ambos.
Por isso, levo sempre em meu coração a certeza de dentro de cada adulto, há uma criança querendo atenção.
E como diria Milton Nascimento:
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
Nayara Feitosa (Graduanda de Psicologia)