quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Vamos guardar os brinquedos?


Vamos guardar os brinquedos?

O momento de guardar os brinquedos, geralmente, não é muito apreciado pelos pequenos. Eles amam brincar, mas na hora de guardar os brinquedos… Aaaah não! Ninguém quer!

Começamos a brigar com as crianças, criticá-las e até rotulá-las de preguiçosas. A medida que isso vai acontecendo, a criança começa a acreditar nessa crença e absorve essa convicção de que, realmente, é preguiçosa.

Com isso, cabe a nós nos perguntarmos por que esse momento é acompanhado de tanto estresse? A atitude das crianças de não querer arrumar os brinquedos, muitas vezes, não seriam uma reação aos gritos e impaciência dos adultos?

Essa hora pode ser uma oportunidade de proporcionar um momento tão lúdico quanto o brincar. A gente não precisa criticar a criança que não quer guardar como preguiçosa.Podemos compartilhar esse tempo com os pequenos!

No meu primeiro dia de estágio em um Centro Municipal de Educação Infantil estava no berçário e chegou a hora de guardar os brinquedos. A sala tornou-se uma festa, todos cantando “guarda, guarda, guarda, bem guardadinho, se guardar direito fica bem arrumadinho” e as crianças envolvidas, se divertindo, gargalhando. Esse momento me marcou e me fez refletir sobre essa questão. Bebês ajudando a arrumar a sala sem o despertar de emoções negativas, se sentindo parte daquilo, brincando e aprendendo responsabilidade.

Cabe a nós como adultos, pais e educadores usar nossa criatividade e viver esse momento de forma mais leve, de forma lúdica. Podemos ensinar ordem e responsabilidade sem deixar a diversão sair pela porta!

Débora Andrade (Graduanda em Psicologia - UFG e Bolsista do Projeto de Extensão "Criança em Questão: repensando certezas com a família e a escola)

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Indicação Cine: Arkangel


Vigilância e controle: Qual o limite?

Arkangel é o segundo episódio da quarta temporada da série de antologia Black Mirror e aborda o uso da tecnologia relacionada à superproteção parental. 

Um 'aparelho' que permite observar os sinais vitais e a localização do filho, aplicar filtros de desfoque de visão em momentos estressantes do pequeno e literalmente enxergar pelos olhos do jovem. Controle que traz tranquilidade, inicialmente, possibilita a proteção do filho. 

Mas será que certa exposição ao perigo também não é necessária? Até que ponto o controle pode levar? 

A trama coloca em questão desdobramentos éticos e morais, que surgem quando a criança cresce e toma consciência de sua individualidade e passa a prezar por sua privacidade.  O alívio inicial de uma proteção parental desmedida que leva ao terror de suas consequências.


Débora Andrade (Graduanda em Psicologia - UFG e Bolsista do Projeto de Extensão "Criança em Questão: repensando certezas com a família e a escola")

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Brincar ou ter um brinquedo?


Brincar ou ter um brinquedo?
O brincar e o brinquedo na sociedade de consumo

Oliveira (2007) contextualiza a questão do brincar e do brinquedo dentro da sociedade atual de consumo, colocando que as transformações sociais e econômicas alteram, ainda, a concepção de criança e, consequentemente, a visão a respeito do brinquedo. Este, por sua vez, apresenta-se nessa sociedade como mercadoria necessária para o consumo do público infantil. 

Segundo a autora, vê-se outra concepção de brincar, submetida à lógica de padronização, e da prontidão (a criança não desenvolve ação criativa sobre o brinquedo, pois esse vem pronto e acabado, faz toda a ação sozinha, enquanto reflexo do avanço tecnológico) onde a única ação do infante, se resume na sua condição de proprietário do brinquedo.” (p. 3).


Referência:

OLIVEIRA, M. R. F. O Brincar na Sociedade de Consumo: em Busca da Superação da Lógica de Padronização e Propriedade do Brinquedo. Revista Eletrônica de Educação, ano I, n. 1, 2007.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Indicação Literária: As Brincotecas


As brincotecas (Naava Bassi)

Um país em forma de triângulo, com brinquedos que falam entre si e crianças que vão às ruas para reivindicar pelo direito de brincar… Ainda que estranho apareça, esta história conta muito da realidade! Naava Bassi, escritora, professora e fotógrafa brasileira traz nesta primorosa obra um dos maiores enfrentamentos em nosso país: a intensa e persistente desigualdade social.
Tratando de forma lúdica as vivências e cotidianos das crianças em seus diferentes contextos, a autora apresenta como a sociedade se estrutura de forma acessível,  buscando a reflexão de algumas situações conflituosas tendo em vista o próprio mundo infantil: Por que algumas crianças podem ter muitos brinquedos e outras nenhum? Por que algumas precisam trabalhar e outras não?
Provocando questionamentos de grande profundidade em temas que perpassam o consumismo exacerbado, a solidariedade e a luta por direitos, o livro se estrutura em uma linguagem simples e com ilustrações que saltam aos olhos. Além do mais, a obra levanta propostas interessantes sobre como se faz possível a busca por saídas para tais temáticas, desde bem pequenos.

Leitura inspiradora e de grande valor!

Rayane Neves (graduanda de Psicologia - UFG e bolsista do Projeto de Extensão "História meio ao contrário...literatura infantil, consciência crítica e formação humana" no Centro de Trabalho Comunitário)

Inclusão Escolar: Como Lidar?


Inclusão escolar: como lidar?
  • Conhecer melhor a criança e sua condição;
  • Buscar informações de seu contexto sócio-histórico e observar sua conduta;
  • Observar como se dá o acolhimento e acompanhamento dessa criança em sua fase de adaptação;
  • Considerar as diversas formas de comunicação dessas crianças;
  • Buscar articulações com setores especializados de atendimento; 
  • Aumentar a rede de apoio.

Fonte: "A pluralidade na educação infantil: uma reflexão psicossocial da práxis educativa" (curso ministrado para as (os) auxiliares de atividades educativas - UFG/GERFOR)

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

IndicaçãoCine: Do Lado de Cá


Do Lado de Cá é um filme a respeito da dignidade. Trata-se de uma crônica poética sobre violência e seus impactos na vida de uma mãe, Aurora, mulher independente que tenta retomar sua rotina após uma perda devastadora em sua família.
Segundo o Déo Cardoso para atingir tamanha delicadeza narrativa, recorremos à estética do cinema Neorrealista italiano, bem como do Cinema Novo brasileiro. Dessa forma, o comportamento da câmera varia de uma forma crua, urgente e tremida para momentos fixos de composição assimétrica. Essa abordagem crua para um conteúdo delicado faz parte desse contraste que o filme almeja, tanto na composição fotográfica, quanto na edição. O desenrolar do filme é contemplativo e energético.
O cineasta explica que o filme foi produzido de forma muito simples, com poucos equipamentos e staff reduzido, de modo a alcançar o maior grau de intimidade e sensibilidade junto às personagens do curta.  Logo, a proposta é puramente semiótica: cada gesto, cada olhar, cada figurino, enfim, tudo tentará passar dignidade, mesmo que de forma despretensiosa, relata Déo Cardoso.
Em dez anos de carreira, ele realizou cinco curtas-metragens de ficção e três documentários, dentre eles o premiado curta-metragem: Pode Me Chamar de Nadi. Ao longo da carreira, Déo Cardoso tem dividido seu tempo entre o cinema, a vida acadêmica, e a militância em movimentos sociais. Dessa experiência, ele traz para seu cinema uma temática socialmente provocativa ora com humor, ora com críticas ácidas sobre nossas contradições.

Fonte: https://jornaldiadia.com.br/2016/?p=220076 

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Preta, eu sei!


Preta, eu sei
Eu sei que você não gostava muito de se olhar no espelho
Sei que seu cabelo era um problema
Preta, eu sei
Eu sei que a professora não tocava sua cabeça como a das outras meninas
Eu sei que você não tocava nos seus fios
Eu sei da dor que era desembaraçar
Eu sei também que vieram os apelidos
Eu sei que seu desejo era acabar com aquilo
Eu sei que nenhuma boneca sua se parecia com você
Ou nenhuma estrela de tv
Eu sei que você se achava menos bonita
Eu sei o que você fez pra escapar disso tudo
Você relaxou, não foi? Você alisou...
Você puxou, você esticou
Eu tava lá, preta... eu vi
Você se desenhou branca? Você sonhou com você tendo outro cabelo e outra pele?
Tava imposto, não tinha jeito
Você fingia ser outra pra alcançar respeito
Eu sei preta, que você se viu na outra preta que passou
Com seu cabelo solto, cheio de crespura e amor
Eu sei que você se viu
Eu sei, preta... você tem medo, né?
Você acha que seu cabelo não é digno de respeito
Você tem medo dos olhares e das reações
Mas preta, deixa eu te contar
Beleza maior em você, irá encontrar
Você nunca se sentiu completa com aquelas máscaras, não é verdade?
Você vai viver a beleza de ser você
Vai ver, vai gostar
Vai voltar pra me contar
Vem preta, solta esse cabelo
Olhe suas irmãs e veja quanto espelho
Descobriu seu poder?
Ninguém nunca mais vai te dizer
Quem você tem que ser.

Texto por Bruna de Paula.

IndicaçãoLiterária: Vento no rosto


“Vento no rosto”, nossa obra literária desta semana, tem notável relevância: é um livro criado por crianças.

O Instituto Promundo, uma organização não governamental em parceria com a Save The
Children, desenvolveram um projeto junto a crianças da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro.
O contato das crianças foi por meio do projeto Esporte, Cultura e Cidadania da Fundação
Oswaldo Cruz e tinha como objetivo principal “dar voz aos pequenos sobre como pensam que
poderiam ser educados sem o uso da violência”, conforme própria organização.

Assim, o livro criado pelos próprios relatos de meninos meninas, conta a história de Lucas, um
garoto que gostava muito de brincar e amava seus pais. Entretanto, eles sempre trabalhavam
muito e viviam dando ordens aos filhos, por vezes em broncas e castigos severos. A narrativa,
com uma linguagem bem estruturada, aborda temas cotidianos da infância e como esses podem
ser tratados de forma distintas pelos adultos, levantando a importância do diálogo, da
necessidade de um contato não violento e do respeito à todas as relações.

Direitos, deveres, a importância no reconhecimento da criança enquanto sujeito de direitos e o
respeito às mesmas: temáticas constantemente presentes em uma obra fictícia criado por crianças e, ainda disponível online! Tem como perder essa?

Link para acesso ao livro: https://promundo.org.br/recursos/vento-no-rosto/?lang=portugues 

Rayane Neves (Graduanda de Psicologia e bolsista do projeto de extensão "História meio ao contrário...literatura infantil, consciência crítica e formação humana")

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Consciência Negra: para além do dia 20 de novembro


No dia 20 de novembro, o Brasil comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi oficializada pela Lei 12.519/2011 e não possui status de feriado nacional, apesar de vários estados estabelecerem como feriado. No entanto, está em tramitação o projeto PLS 482/2017, do Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para que a data se torne feriado nacional. No âmbito da educação, a Lei 10.639/2003 foi responsável por decretar a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica.

Esse dia surgiu como rememoração da história dos negros no Brasil, desde a colonização, suas lutas e suas conquistas. Além disso, representa uma homenagem àqueles que lutaram e lutam pelos direitos da raça e seus principais feitos. A data foi escolhida, então, em homenagem ao Zumbi, último líder do Quilombo dos Palmares, em decorrência de sua morte. O dia 20 de novembro faz menção à consciência negra, a fim de ressaltar as dificuldades que os negros passam há séculos.

Comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa luta. Justamente, por isso, a memória e, principalmente, a luta não devem resumir-se ao dia 20 de novembro. Temos a tendência de usar uma data para mascarar a opressão presente no cotidiano, sendo que é necessário falar sobre consciência negra sempre. A violência, preconceito, exclusão, falta de representatividade … estão postos todos os dias.

Precisamos falar com nossas crianças sobre história, sobre opressão, sobre diversidade, sobre luta, sobre RESPEITO!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

IndicaçãoCine: Vermelho como o céu


Vermelho Como o Céu é um longa-metragem italiano lançado em 2007 e dirigido por Cristiano Bortone. Mirco, o protagonista, sofre um acidente doméstico, perdendo a visão. É rejeitado pela escola convencional e direcionado a uma escola especial, no qual, a partir de sua paixão pelo cinema, redescobre seu potencial e sua criatividade. Mirco apura seus outros sentidos, nos fazendo sentir!
Um filme sobre transição, dificuldades, conflitos, problemas sociais, luta, superação e transformação. Vermelho como o céu é poesia, é emoção.
Além de fazer uma belíssima declaração de amor ao cinema, Vermelho Como o Céu resgata a tradição humanista e passional de um tipo de cinema italiano que não tem medo de chorar. Não por acaso, ele foi eleito o melhor filme pelo Júri Popular da 30ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Indicação Literária: Show de Bola



Show de bola (Jonas Worcman de Matos e José Santos)

Um livro de poemas, adivinhas, curiosidades e até mesmo um dicionário sobre futebol… Show de bola, escrito por Jonas Worcman de Matos e José Santos (pai e filho), traz divertidas e diferentes possibilidades em um livro para crianças e adultos,  pautadas sempre na temática do futebol e com vibrantes ilustrações.

Muito bem humorado, o livro é dividido em ‘primeiro tempo’, ‘intervalo’, ‘segundo tempo’ e ‘prorrogação’, cheios de poemas descomplicados que narram como um jogo de futebol pode ser: na grama ou na lama, com bola ou garrafa, mas que o importante mesmo, é jogar junto!

As adivinhas, com nomes curiosos sobre passes e dribles do futebol dão uma dinâmica especial para o ‘intervalo’, proporcionando interessantes informações futebolísticas em um jogo de palavras interativo.

Leitura prazerosa e enérgica, como um bom jogo de futebol deve ser!

Rayane Neves (Graduanda em Psicologia-UFG e bolsista do projeto de extensão "História meio ao contrário... literatura infantil, consciência crítica e formação humana" no Centro de Trabalho Comunitário-CTC)

Conhece alguma instituição de educação que gostaria de realizar uma palestra/roda de conversa? ENTRE EM CONTATO


Qual o valor? 
As palestras e/ou rodas de conversa são ofertadas de forma gratuita

Sobre qual tema vocês falam? 
Qualquer temática referente à Psicologia, a partir da demanda da própria instituição

Quais instituições podem entrar em contato? 
Todas as instituições de educação públicas ou privadas de Goiânia e região metropolitana.

Não perca essa oportunidade, a agenda está aberta!

Entrar em contato:
facebook: Criança em questão
Instagram: @criancaemquestao


domingo, 11 de novembro de 2018

A educação infantil como lugar do brincar


É consenso afirmar que toda criança brinca. Via de regra, a atividade lúdica está presente em quase tudo que a criança faz. Quando come, quando toma banho, antes de dormir, e é quase certo que vá relutar em parar de brincar para realizar uma atividade "séria". Brinca espontaneamente, não importa como, nem o seu conteúdo. Não importa com qual brinquedo, pois o brinquedo nos remete a um produto com determinados conteúdos e a atividade em si, o brincar, tem caráter de produção, de processo.

O brincar se refere à própria composição subjetiva, e qualquer atividade significante no desenvolvimento da criança está relacionada a esse processo, indicando não só os avanços, as conquistas, os progressos em seu desenvolvimento, como os impedimentos, as dificuldades e as patologias. Se não há brincar, o sujeito se cala. 

O brincar é assim, um ato que permite a expressão do mundo interno da criança, a elaboração e o controle de suas vivências, armando uma espécie de cenário imaginário onde protagoniza de modo ativo aquilo que se vive e experiencia de modo passivo. Favorece também o estabelecimento de laços seja com o adulto, seja com outras crianças. Trata-se da construção do sujeito humano que, na relação com o Outro Cuidador, vai poder organizar sua relação consigo mesmo, com o mundo e com os objetos. 

Às vezes, se faz difícil compreender que um bebê já brinque. Evidentemente que sua capacidade criativa e sua habilidade lúdica diferem muito de crianças maiores, e é justamente por isso que aquele que se ocupa de bebês e crianças no âmbito da educação infantil deve estar atento para o percurso lúdico que o pequeno sujeito realiza. Seguimos aqui as ideias de Winnicott (1973) que destaca quatro tempos do brincar da criança:

1) O brincar com o corpo do outro cuidador;
2) O brincar no espaço de ilusão, onde o outro adulto ainda é necessário, não mais como corpo, mas enquanto olhar;
3) O brincar sozinha, mas na presença de um adulto de referência disponível;
4) O brincar com outras crianças.

Observa-se que a presença e o lugar do Outro Cuidador-educador nas brincadeiras primordiais dos bebês são fundamentais, pois permitem à criança aos poucos se voltar para os objetos do mundo externo, iniciando e complexificando seus modos de exploração através do brincar. Essas "brincadeiras constituintes" se realizam durante as atividades de cuidados dispensados à pequena criança. Ao se lambuzar de papinha, ao buscar o corpo do adulto, procurando por marcas, orifícios, enroscando no cabelo, por entre as pernas, ao jogar um objeto e esperar que o adulto o devolva, ao se fartar de prazer brincando de "escondeu-achou". Até as atividades mais ousadas como enfiar os dedos nos buracos - tomadas, vãos, frestas -, sempre atento a buscar a participação do outro adulto com seu olhar. Olhar que também precisa estar presente quando a exploração se torna produção, ou seja, quando a criança consegue empulhar peças ou alcançar um brinquedo escondido. 

Em resumo, nos berçários, a participação dos educadores nos momentos lúdicos não se resume em apenas observar a atividade dos bebês em torno dos objetos e brinquedos disponíveis. Exige uma participação ativa, significante, isto é, capaz de traduzir em palavras a ação do bebê, permitindo a este construir simbolicamente e encenar imaginariamente suas representações e versões do mundo e de si.

Ao campo da educação infantil fica vedado se posicionar num lugar distante e alheio à função do brincar e tão pouco comprometido com o desejo e o prazer. Aprender, investigar e desejar é, na verdade, o brincar transformado, garantindo que tudo possa continuar acontecendo como aprendemos - brincando. 

Referência:
MARIOTTO, R. M. M. Cuidar, educar e prevenir: as funções da creche na subjetivação de bebês. São Paulo: Escuta, 2009, p. 141-143.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Indicação Cine: Vida Maria



“Vida Maria” é um curta-metragem em 3D, lançado no ano de 2006, produzido pelo animador gráfico Márcio Ramos. O curta mostra personagens e cenários modelados com texturas e cores pesquisadas e capturadas no Sertão Cearense, no Nordeste do Brasil, criando uma atmosfera realista e humanizada.
A concepção meritocrata se desfaz em questão de segundos, dando lugar às limitações sócio-econômicas que perpassam as gerações de Marias. Maria de Lourdes. Maria José. Maria Aparecida. Maria de Fátima. Maria das Dores. Maria da Conceição. Maria do Carmo. Não dá tempo escrever atrás da janela, se é preciso lutar pela sobrevivência lá fora. Não viver, mas sobreviver.

Dia a dia nega-se às crianças
O direito de ser crianças.
Os fatos, que zombam desse direito,
Ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana.
O mundo trata os meninos ricos como se fosse
Dinheiro, para que se acostumem
A atuar como o dinheiro atua.
O mundo trata os meninos pobres como se
fossem lixo, para que se transformem em lixo.
E os do meio, o que não são ricos nem pobres,
Conserva-os atados à mesa do televisor, para
Que aceitem desde cedo como destino,
A vida prisioneira.
Muita magia e muita sorte têm as crianças
Que conseguem ser crianças.
Eduardo Galeano


Débora Andrade (graduanda de Psicologia-UFG e bolsista do Projeto de Extensão "Criança em Questão: repensando certezas com a família e a escola")

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Explorador


Olha só quantas árvores!
Vamos procurar manga?
Com um graveto na mão,
Posso ser o que quiser
Explorador
Do parque, das árvores, do universo
As mangas não estão prontas
Lá estão elas
No topo da árvore
Verdinhas
Ainda assim, quero pegar
Com meu graveto na mão
Mamãe disse que preciso esperar
Esperar que estejam prontas
Mas continuo a explorar
Ela grita meu nome
Não entende porque quero continuar
Mal sabe ela
Que com um graveto na mão
                                             Posso ser o que quiser

Débora Andrade (Graduanda de Psicologia-UFG e bolsista do Projeto de Extensão "Criança em Questão: repesando certezas com a família e a escola"

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Indicação Literária: "Penas pro ar"


PENAS PRO AR (TÂNIA ALEXANDRE MARTINELLI)

O que acontece quando o que a gente conhece fica de pernas para o ar? Ou melhor, de penas para o ar ..
Utilizando galos e galinhas como metáfora e com um enredo simples e envolvente, Tânia Alexandre Martinelli discute o autoritarismo e o controle de uns sobre os outros, bem como a força da união na derrubada de um sistema que se mostra desde o início do livro fadado ao fracasso.

Um galo que só manda e não trabalha, uma franguinha esperta e atrevida e a união das galinhas são personagens e movimentos de possibilitam a identificação e a promoção de mudanças, sejam elas em casa, na escola ou em qualquer lugar que uma criança ou um adulto ocupe. Afinal, como afirma a narradora do livro, a franguinha Susie: “se a gente não puder desarrumar e arrumar o nosso pensamento, qual é a graça? Vamos pensar a mesma coisa durante a vida inteira? Que chatice!”.

Nayara Feitosa (Graduanda de Psicologia-UFG)

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Morte: assunto para criança?


A morte é um assunto que faz parte da vida de qualquer um, seja adulto ou criança. Sendo assim, é preciso falar de morte com a criança?
A criança muito pequena não percebe a inversibilidade da morte e os desenhos animados auxiliam nessa não percepção ao mostrarem personagens morrendo e voltando mesmo em um único episódio. Ela acredita que é possível “morrer apenas um pouquinho”. A medida que elas vão crescendo vão compreendendo a universalidade e irreversibilidade da morte.
Assim como os adultos, as crianças vivenciam processos de luto e precisam ser acolhidas e cuidadas. Esconder, fingir que nada está acontecendo ou distrair a criança com outro tipo de atividade muitas vezes pode ensinar a criança a esconder os seus sentimentos ou transmitir a informação de aquilo não é tão importante. As crianças percebem ,no silêncio daqueles que convivem com ela, aquilo que deveria ser dito a mostram através de sintomas ou comportamentos inadequados que reconhece que algo está errado, ainda que não saiba exatamente o que. O silêncio, ao invés de calar, gera dúvida e insegurança.
A forma de tratar o assunto depende da idade da criança, da proximidade com a pessoa que faleceu, etc. Independente desses aspectos, é preciso falar a linguagem daquela criança, de modo que ela entenda o que ocorreu e possa elaborar o luto da melhor forma possível.

Algumas indicações de literatura infantil sobre o assunto:

  1. Menina Nina: duas razões para não chorar (Ziraldo)
  2. Cadê meu vô? (Lídio Izecson de Carvalho)
  3. Meu filho pato e outros contos sobre aquilo que ninguém quer falar (Ilan Brenman)

Nayara Feitosa (Graduanda em Psicologia-UFG)

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Transtorno do Déficit de Natureza


O distanciamento atual entre as crianças e a natureza emerge como uma importante crise do nosso tempo. Especialmente no contexto urbano, independente do tamanho da cidade, o mundo natural tem deixado de ser visto como elemento essencial da infância. As consequências são significativas: obesidade, hiperatividade, déficit de atenção, desequilíbrio emocional, baixa motricidade - falta de equilíbrio, agilidade e habilidade física - e miopia são alguns dos problemas de saúde mais evidentes causados por esse contexto. Além destas, diversas consequências menos reconhecidas também fazem parte desse cenário.

O jornalista Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza, cunhou o termo “transtorno do déficit de natureza” para descrever esse fenômeno que incide nas nossas infâncias. Não se trata de um termo médico, mas de uma forma eficaz de chamar a atenção para uma questão emergente. Simultaneamente, nos últimos anos vimos surgir muitas pesquisas que sugerem o que alguns educadores, pais e especialistas atestam há décadas: o convívio com a natureza na infância, especialmente por meio do brincar livre, ajuda a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e de resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento integral da criança. Isso sem falar nos benefícios mais ligados aos campos da ética e da sensibilidade, como encantamento, empatia, humildade e senso de pertencimento. 

Os sintomas e efeitos dessa desconexão compõem um problema sistêmico que está levando a profundos impactos em todas as gerações, especialmente crianças e idosos, afetando a qualidade de vida em todos os territórios. Os fatores responsáveis por esse cenário, como saúde, planejamento urbano, mobilidade, uso de eletrônicos, desenvolvimento econômico e social, violência, conservação da natureza e educação, são complexos e estão inter-relacionados. Esse cenário, no entanto, varia de intensidade dependendo da classe social e da realidade específica de cada um, e seus impactos são mais agudos e presentes nas cidades e bairros densamente habitados e de alta vulnerabilidade social, onde as condições para uma infância saudável e plena estão muito ameaçadas.

É necessário refletir sobre o modo de vida e de desenvolvimento que estamos adotando nas cidades, tendo em vista que a urbanização é um processo crescente no país e no mundo. No Brasil, a concentração da população em cidades cresceu de 75,6% em 1991, para 84,7%, em 2015.

Portanto, faz sentido pensar sobre a forma como o mundo atual, sobretudo urbano, está acolhendo as novas gerações. Há diversas conquistas e avanços relacionados à infância em nosso país, como o aumento da escolaridade, a redução da mortalidade e o combate à exploração do trabalho infantil. Mas não podemos deixar de considerar que os efeitos da urbanização, entre eles o distanciamento da natureza, a redução das áreas naturais e a falta de segurança e qualidade dos espaços públicos ao ar livre nos levam - adultos e crianças - a passar a maior parte do tempo em ambientes fechados e isolados, criando um cenário que cobra um preço muito alto para o desenvolvimento saudável das crianças.

Atentos a isso, um número significativo de especialistas, educadores e pais no mundo todo, assim como no Brasil, vêm se dedicando a entender o que está adoecendo e tornando as crianças nervosas, agitadas, infelizes e com dificuldades de aprendizagem e convivência na escola. Um conjunto consistente de evidências científicas, em sua maior parte geradas fora do Brasil, sugere que um dos fatores seja o distanciamento entre as crianças e a natureza. Isso porque ambientes ricos em natureza, incluindo as escolas com pátios e áreas verdes, as praças e parques e os espaços livres e abertos para o brincar, ajudam na promoção da saúde física e mental e no desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais, motoras e emocionais.

Os sinais dados pelas crianças em sua relação com ambientes naturais demonstram a capacidade que esses espaços têm de acolher tanto sua pulsão expansiva, de movimento ou interação, quanto sua necessidade de introspecção e solidão, e apontam para a necessidade de mudanças em diversos campos como saúde, família, educação e urbanismo. Acreditamos que uma das peças desse complexo panorama que precisa mudar são os espaços educativos escolares e urbanos e a forma como a criança e todos nós os habitamos. Assim, nos reunimos a um movimento mundial que procura dar luz à importância da naturalização dos espaços escolares e à ressignificação do seu uso.

Fonte: Desemparedamento da Infância: a escola como lugar de encontro com a natureza

Para saber mais acesse criancaenatureza.org.br
Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial