quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O brinquedo ideal


O brinquedo ideal, ou o bom brinquedo, é aquele que permite a brincadeira: a imaginação, a descoberta, a exploração, a imitação, o planejamento, a solução de conflitos, o aprendizado sobre si mesmo e sobre o mundo, a interação com os outros e o ficar só. São brinquedos que se transformam, não são engessados, nem ditam ordens. São brinquedos que não restringem as possibilidades de brincar; pelo contrário, as ampliam.


Quem já observou uma criança brincando com uma boneca que fala frases prontas pode observar seu encantamento pelo que inicialmente se apresenta como mágico – a fala. Mas pode também observar seu frequente e rápido desencantamento pelo brinquedo. A boneca só fala o que ela, boneca, “quer falar”. Ela é dura, não pode ser lavada por causa das pilhas, não aconchega no colo.

Se a boneca, brinquedo que primordialmente representa o bebê e, portanto, as formas de cuidar e a relação de quem brinca com parte do mundo adulto, como fica a construção de um diálogo criativo e espontâneo, a possibilidade de carregá-la como a criança deseja e até mesmo mergulhá-la na tão gostosa água de tantas brincadeiras? É compreensível que, com tantas limitações, a magia se dissipe ligeiramente pelos ares.

O que acontece com as bonecas também ocorre com os trenzinhos que giram numa pista pronta sem participação nenhuma da criança (só montar e observar é muito pouco para chamarmos isto de participação), com os carrinhos que andam pela casa cantando, com os instrumentos musicais que definem o que vai ser tocado e com tantos outros similares que permitem uma interação restrita.

Brinquedos tão desejados e implorados, muitas vezes são logo deixados de lado. Pense nos brinquedos de sua infância. Pense nos brinquedos das crianças com quem você convive. Quais são os inseparáveis, os mais legais de brincar? Quais foram rapidamente esquecidos, deixados no fundo do baú, sem lembrança ou saudade? Certamente os brinquedos que inibiam o brincar e a liberdade de criar e se expressar.

Numa sociedade em que ter vale mais do que ser e dar mais do que estar, não é apenas o bombardeio da publicidade e as lojas abarrotadas de opções que contribuem com o frenético pedido de “quero este”, “compra aquele”, mas também a impetuosa atitude dos adultos de consumar o pedido, muitas vezes de modo imediato, abortando aprendizados tão importantes como o questionamento e a capacidade de espera.

Quando falamos em brinquedo, estamos nos referindo, antes de mais nada, a objetos de desejo, de crianças e de adultos. Quantos adultos compram um brinquedo, muitas vezes sem a criança ter nascido ou ainda sem idade para usá-lo, só porque o achou bacanérrimo? Aqui temos duas questões importantes que merecem atenção: o desejo do adulto sobrepondo-se ao da criança e o modelo de consumo dos adultos de referência, que será o modelo de consumo das crianças, pelo menos até a adolescência, quando pode haver algum confronto com o modelo parental, familiar ou social. Se os adultos não param para pensar desde o começo, lá na frente vão se deparar com os desenfreados e insistentes pedidos de “compra, vai”, “eu quero”. E sem saída, acabarão comprando e, consequentemente, educando para um consumo não consciente.

Uma criança pede, insiste, persiste, “fica doente” se não ganha o tal do brinquedo. Então ela ganha, brinca um pouco e o tão desejado brinquedo cai no esquecimento. Triste fim. Do dinheiro suado, do sonho acordado, da infância que passa.

Sempre é tempo de parar, pensar, rever. Diante do apelo da criança por um brinquedo, experimente escutar qual o significado daquele pedido. A criança pede um determinado brinquedo porque os amigos têm e ele não? A criança quer um brinquedo (ou vários) porque foi devorada pelos comerciais da TV? Ela pede um brinquedo porque o achou legal ou se cansou dos seus?

Por trás de um pedido sempre há um significado que precisa ser compreendido pelo adulto e pela criança. Brinquedo não deve ser ingresso para as rodas de amigos (se assim o for, o que estará sendo valorizado é o ter em sobreposição ao ser). Brinquedo deve propiciar trocas afetivas e não entrar no lugar do afeto. Brinquedo deve ser escolhido pelo que ele realmente é, e não pelo que ele parece ser. Brinquedo tem que ter qualidade, segurança e longevidade, tanto em termos de durabilidade, quanto em vida útil e interesse nas mãos de uma mesma criança.

Brinquedo que se brinca nem sempre é encontrado nas lojas. O primeiro brinquedo de toda criança é o próprio corpo e o corpo da mãe. Evolui para objetos simples, como potinhos encontrados em qualquer cozinha. Uma pedrinha na areia da praça, uma folha do jardim, exercem um fascínio que muitas mesas de atividades cheias de sons e balangandãs não conseguem propiciar por muito tempo. A simplicidade dos brinquedos dos estágios iniciais da vida não pode se perder ao longo do crescimento. Criança precisa do seu corpo para brincar e de brinquedos que não tolham sua criatividade e expressão, como os brinquedos que têm função pré-definida.  Aqui não me refiro aos jogos, que são estruturados, com objetivo definido e de extrema importância no que tange a compreensão e a aquisição de regras, o estímulo do raciocínio lógico e, em muitos deles, a coordenação motora. Brinquedo com função pré-definida são os estereotipados e os que limitam a maneira de brincar.

O brinquedo ideal não é um ideal; é apenas um recurso importante para o desenvolvimento da criança. O brinquedo ideal pode ser uma árvore, uma piscina, uma bola, uma bicicleta, um bolo na batedeira, uma fita crepe, uma boneca gostosa, um pedaço de pano, um carrinho qualquer, uma bacia com água, etc. O brinquedo ideal está no poder de inventar e (se) transformar. O brinquedo ideal é criado e recriado a cada brincadeira. Brinquedo é assunto sério. Se ele não tem plasticidade, a criança não aprende a ter jogo de cintura, vital para qualquer ser humano em todas as fases de sua vida. Pense nisto antes de ser fisgado pelas armadilhas do consumo ou pelo pedido de uma criança que está apelando por outra coisa.


Nota: Este texto, publicado em 21/10/2012 no antigo blog Ninguém Cresce Sozinho, foi revisado e alterado minimamente em seu conteúdo original pela autora.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Criança precisa de atenção!


Tem sido impressionante e, ao mesmo tempo, preocupante, a quantidade de crianças que tem sido levadas à psicólogos, psiquiatras, neurologistas, com o objetivo de obter um diagnóstico e um tratamento para o TDAH. Esta demanda, geralmente trazida pelos pais e professores, chega sob a forma de uma certeza: "Esse menino é hiperativo, não pára um segundo, corre o dia inteiro" ou ainda, "Ele tem TDAH, está no primeiro ano e ainda não sabe escrever o próprio nome completo!" e a lista segue com inúmeras falas... Na grande maioria das vezes, durante as avaliações, estas crianças não apresentam características necessárias para serem diagnosticadas com este transtorno, muitas delas passando longe disso. 
O que percebemos são crianças desejando serem ouvidas e respeitadas de acordo com seu próprio jeito de ser e processo de desenvolvimento singular. Além de pais com muito pouco tempo e\ou disponibilidade para conhecer seus filhos e saber aquilo que realmente está acontecendo com eles. A possibilidade do TDAH surge como uma resposta simples ao conjunto de fatores que na realidade é muito mais complexo.
É preciso entender que nesse caso o caminho mais simples não leva onde precisamos, que é em uma relação de pais, filhos, professores e estudantes, que considere a complexidade do processo de desenvolvimento infantil, bem como do processo de aprendizagem, reconhecendo que nem sempre um diagnostico médico é capaz de solucionar problemas cuja as origens estão longe de serem biológicas...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

COMO CONVERSAR COM MENINAS ?

original

Não, não é um guia de paquera para garotos tímidos. Este texto da Lisa Bloom nos faz pensar sobre as consequências que nossas atitudes podem ter na educação das crianças, e como podemos mudar parâmetros sociais apenas conversando de modo diferente com uma menininha, segurando o impulso de dizer o quanto ela é linda para surpreendê-la ao ressaltar as outras qualidades que ela tem. Vale dizer que a educação dos meninos também precisa ser repensada, e que autora já escreveu sobre os dois.
Como conversar com meninas
Eu fui a um jantar na casa de uma amiga na semana passada, e encontrei sua filha de 5 anos pela primeira vez. A pequena Maya tinha os cabelos castanhos e cacheados, olhos escuros, e estava adorável em seu vestidinho rosa e brilhante. Eu queria gritar, “Maya você é tão fofa! Veja só! Dê uma voltinha e desfile esse vestidinho rosa, sua coisinha linda!”
Mas eu não fiz isso. Eu me contive. Como sempre me contenho quando conheço garotinhas, negando meu primeiro impulso, que é dizer o quão fofas/lindas/bonitas/bem vestidas/de unhas feitas/cabelo arrumado elas são/estão.
“O que há de errado nisso? É a conversa padrão de nossa cultura para quebrar o gelo com as meninas, não é? E por que não fazer-lhes um elogio sincero para elevar suas auto-estimas? Porque elas são tão lindas que eu simplesmente quero explodir de tanta fofura quando as encontro, sinceramente.”
Guarde este pensamento por um tempo.
Esta semana a ABC News informou que quase metade das meninas de 3 a 6 anos se preocupam por estarem gordas. No meu livro, Think: Straight Talk for Women to Stay Smart in a Dumbed-Down World, eu revelo que 15 a 18% das meninas com menos de 12 anos usam rímel, delineador e batom regularmente; distúrbios alimentares estão em alta e a auto-estima está em baixa; e 25% das jovens mulheres americanas prefeririam vencer o America’s Next Top Model a ganhar o prêmio Nobel da Paz. Até universitárias inteligentes e bem sucedidas dizem que preferem ser ‘gostosas’ a serem inteligentes. Recentemente uma mãe de Miami morreu durante uma cirurgia estética, deixando dois filhos adolescentes. Isso não pára de acontecer, e isso parte o meu coração.
Ensinar as meninas que a aparência delas é a primeira coisa que se nota ensina a elas que o visual é mais importante do que qualquer outra coisa. Isso as leva a fazer dieta aos 5 anos de idade, usar base aos 11, implantar silicone aos 17 e aplicar botox aos 23. Enquanto a exigência cultural de que as garotas sejam lindas 24 horas por dia se torna regra, as mulheres têm se tornado cada vez mais infelizes. O que está faltando? Um sentido para a vida, uma vida de ideias e livros e de sermos valorizadas por nossos pensamentos e realizações.
Eu me esforço para falar com as meninas assim:
“Maya,” eu disse, me ajoelhando até ficar da sua altura, olhando em seus olhos, “prazer em conhecê-la”.
“O prazer é todo meu,” ela disse, com a voz já bem treinada e educada para falar com adultos como uma boa menina.
“Hey, o que você está lendo?” Perguntei, com um brilho nos olhos. Eu amo livros. Sou louca por eles. Eu deixo isso transparecer.
Seus olhos ficaram maiores, e ela demonstrou uma empolgação genuína, mas contida, sobre o assunto. Ela pausou, no entanto, tímida por estar com um adulto desconhecido.
“Eu AMO livros,” eu disse. “E você?”
A maioria das crianças gosta de livros.
“SIM,” ela disse. “E agora eu consigo ler sozinha!”
“Que incrível!” eu disse. E é incrível, para uma menina de 5 anos.
“Qual é o seu livro preferido?” perguntei.
“Vou lá pegar! Posso ler pra você?”
Purplicious foi a escolha de Maya, um livro novo para mim, e Maya se sentou junto a mim no sofá e leu com orgulho cada palavra em voz alta, sobre a nossa heroína que adora rosa mas é perturbada por um grupo de garotas na escola que só usam preto. Infelizmente, o livro era sobre garotas e o que elas vestiam, e como suas escolhas de roupas definiam suas identidades. Mas depois que Maya virou a última página, eu conduzi a conversa para as questões mais profundas do livro: meninas más e pressão dos colegas, e sobre não seguir a maioria. Eu contei pra ela que minha cor preferida é o verde, porque eu amo a natureza, e ela concordou com isso.
Em nenhum momento nós discutimos sobre as roupas, o cabelo, o corpo ou quem era bonita. É surpreendente o quão difícil é se manter longe desses tópicos com meninas pequenas, mas eu sou teimosa!
Eu falei para ela que eu tinha acabado de escrever um livro, e que eu esperava que ela escrevesse um também, algum dia. Ela ficou bastante empolgada com essa ideia. Nós duas ficamos muito tristes quando Maya teve que ir pra cama, mas eu disse a ela para da próxima vez escolher outro livro para lermos e falarmos sobre ele. Ops! Isso a deixou animada demais para dormir, e ela levantou algumas vezes…
Aí está, um pouquinho de oposição a uma cultura que passa todas as mensagens erradas para as nossas meninas. Um empurrãozinho em direção à valorização do cérebro feminino. Um breve momento sendo um modelo a ser seguido, intencionalmente. Meus poucos minutos com a Maya vão mudar a multibilionária indústria da beleza, os reality shows que diminuem as mulheres, a nossa cultura maníaca por celebridades? Não. Mas eu mudei a perspectiva de Maya por pelo menos aquela noite.
Tente isto da próxima vez que você conhecer uma garotinha. Ela pode ficar surpresa e incerta no começo, porque poucos perguntam sobre sua mente, mas seja paciente e insista. Pergunte-a o que ela está lendo. Do que ela gosta ou não gosta, e por quê? Não existem respostas erradas. Você apenas está gerando uma conversa inteligente que respeita o cérebro dela. Para garotas mais velhas, pergunte sobre eventos atuais: poluição, guerras, cortes no orçamento para educação. O que a incomoda no mundo? Como ela consertaria se tivesse uma varinha mágica? Você pode receber algumas respostas intrigantes. Conte a ela sobre suas ideias e conquistas e seus livros preferidos. Mostre para ela como uma mulher pensante fala e age.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Ah, esse celular!!!!


 Nenhum texto alternativo automático disponível.


Está crescendo uma geração de bebês cujos pais, além de terem pouco tempo de convívio com seus filhos, passam boa parte deste tempo imersos em seus celulares.

Afinal, depois de um dia duro de trabalho e horas no trânsito, a gente quer se divertir um pouco com as novidades do Face e as fofocas do Whatsapp. A gente quer se sentir pertencendo a nossos grupos de amigos, e nao perder algo importante.

Sofrem nossos filhos. Sofrem crianças que em vez de diálogos, ganham monossílabos. Em vez de sorrisos abertos e da pela interação, ganham um olhar de canto de olho, uma meia-atenção. Uma ausência; a não interação.

Em vez da intimidade, estranheza. 

Elas veem nos adultos uma forma de agir no mundo: é onde começa o vício e a compulsão pelas telas.

Perdem essas crianças em afeto, em desenvolvimento, em memória, em amor - em infância. Num momento que não volta mais, que é precioso para que cresçam inteligentes, saudáveis, felizes, afetuosas, empáticas, preparadas para a vida.

Não é preciso deixar de usar seu smartphone para se divertir, se informar e se relacionar. Mas em alguns momentos, sempre que possível - desligue. Desligue mesmo, nada de colocar no vibrador. Desligue o telefone e ligue sua atenção pela em sua filha, ali, engatinhando pela sala, aprendendo a colocar o cubo na caixa, descobrindo os sons da música. Mostre, interaja, fale, olhe no olho, converse, ria, faça cosquinha, jogue pra cima, dê cambalhota. 

E supremo remédio, como sempre repito, saia de casa e esqueça o telefone, vá para a natureza e deixa que ela a descubra. Faz um bem que você nao imagina.

Leia este artigo:
http://desenvolvimento-infantil.blog.br/pai-mae-larguem-o-celular/

Fonte: Pedagogia Integral

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Ser mãe de menino em uma sociedade machista...

Rita Lisauskas, do blog 'Ser mãe é padecer na internet', escreveu um excelente texto sobre as dificuldades de ser mãe de menino em uma sociedade que ainda se mantém bastante machista! Ela chama a atenção para o fato de que essa cultura não oprime apenas as meninas, mas também os meninos, que são exaustivamente pressionados a assumir uma postura que muitas vezes não desejam. Ela nos conta sua experiência nessa difícil missão, com certeza servirá de inspiração para que cada um de nós sejamos educadores que vão da contra mão do machismo!

Confiram o texto na íntegra:


Sobre como é difícil criar um filho não machista em um mundo machista
Eu já tinha dois enteados quando fiquei grávida. E quando descobri que o bebê que esperava também era um menino, achei que estava preparada para o desafio de colocar mais um garoto nesse mundo.
Mas não estava.
E só descobri isso depois de ouvir o primeiro comentário machista, quando ainda contávamos sobre a gravidez e o sexo do bebê: “Mais um macho na família ! Amarrem as cabras porque os bodes estarão soltos!”
Achei de péssimo gosto. E a ficha caiu. O machismo não oprime apenas as meninas. Também atinge os meninos em cheio.
O guri nasceu, mal falava gugu dadá e já era cobrado: “QUANTAS namoradinhas arrumou na escola, hein?” Eu, a mãe sempre chata e problematizadora, respondia com a voz tatibitati: “Nenhuma, né, tio! Eu sou uma criança! E criança não namora, brinca.”
Ou então: “Esse aí vai destruir o coração de muitas menininhas!”.
“Não, não vou não. Sou um menino legal e vou respeitar todas as garotas!”
A luta é inglória e diária. Os meninos sempre ouvem que precisam namorar várias, transar com todas. Têm sempre que “chegar junto” para provar que são homens. Bater para provar que são machos … e não brincar de casinha para não virar gay. Pois é.
“Você deixa ele brincar de boneca?”, perguntaram-me uma vez no playground, quando viram meu filho feliz da vida empurrando um carrinho de boneca de uma amiguinha do prédio.
“Cuidado, hein? Desse jeito ele vai virar viado!”, comentaram depois de ver que meu filho tinha uma pia de brinquedo. Saía água de verdade e ele adorava lavar todos os pratinhos e xícaras que vieram com ela.
Nas duas situações respirei fundo e argumentei:
“Você não acha que se os meninos brincassem de boneca não teríamos pais mais participativos na criação dos filhos?”
“Você não acha que se todas as crianças do mundo aprendessem a brincar de casinha desde pequenas os homens não descobririam que cuidar da casa também é responsabilidade deles?”
E a cereja do bolo: “Se meu filho for gay não será porque brincou de boneca ou de lavar a louça. E continuará a ser amado e respeitado como sempre foi.”
Só ouvi silêncio.
Pois é.
O silêncio chega quando os argumentos faltam. E nós, mães de menino, assim como as mães de menina, não podemos nos silenciar nunca.
“Para de chorar, Samuel! Meninos não choram!”
Choram sim, filho. Todo mundo chora. Inclusive meninos.
Dia desses ele não quis colocar uma camisa rosa linda que ganhou do padrinho. “Rosa é cor de menina, mamãe!”. Até então o rosa era apenas uma cor dentre várias lá em casa. Mas, aos 6 anos, o mundo o contaminou. E não teve jeito. Eu expliquei que meninos e meninas podiam usar todas as cores. Ele entendeu. Mas me disse que gostava “muito, muito” da camisa azul. E colocou a azul.
Depois ouvi ele comentando ao assistir a um desenho na tv: “Claro que ninguém vai casar com ela. É tão gorda!”
Infelizmente não conseguir ver qual era a animação que ele acabara de assistir. Mas expliquei que as pessoas podem ser magras e gordas. Que cada um é de um jeito, mas que a gente gosta é da pessoa, independentemente do peso. E que ele nunca, nunca, nunca, poderia dizer que uma pessoa é gorda como forma de xingamento. Era feio. Ofensivo. E que as pessoas ficam muito chateadas se a gente faz algo do tipo.
“Nunca faça isso, filho.”
“Tá bom! Mas você já viu que o Cebolinha fala isso pra Mônica o tempo todo, mamãe?”
Fiquei muda.
Tá vendo como é difícil?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

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