quarta-feira, 29 de junho de 2016

Filhos perfeitos, crianças tristes: a pressão da exigência

Os filhos perfeitos nem sempre sabem sorrir, nem conhecem o som da felicidade: temem cometer erros e nunca alcançam as elevadas expectativas que os seus pais têm. A sua educação não está baseada na liberdade, nem no reconhecimento, e sim na autoridade de uma voz rígida e exigente.
Segundo a APA (American Psychological Association) a depressão nos adolescentes já é um problema muito grave na atualidade, e uma exigência desmedida por parte dos pais pode derivar facilmente na falta de autoestima, ansiedade, e em um elevado mal-estar emocional.
A educação sempre deve ser a base da felicidade, do autoconhecimento, e não uma diretriz baseada unicamente no perfeccionismo onde os direitos da criança são completamente vetados.
É preciso ter em mente que essa exigência na infância deixa a sua marca irreversível no cérebro adulto: a pessoa nunca se acha suficientemente competente, nem perfeita com base naqueles ideais que lhe foram incutidos. É preciso cortar esse vínculo limitante que veta a nossa capacidade de sermos felizes.

Filhos perfeitos: quando a cultura do esforço é levada ao limite

Frequentemente ouvimos que vivemos em uma cultura que baseia a sua educação na falta de esforço, na permissividade e na pouca resistência à frustração. Contudo, isso não é totalmente verdade: em geral, e mais ainda em tempos de crise, os pais procuram a “excelência” em seus filhos.
Se uma criança tira um 7 em matemática, é pressionado para alcançar um 10. As suas tardes são preenchidas com aulas extracurriculares e seus momentos de ócio são limitados à busca por mais competências, resultando em estresse, esgotamento e vulnerabilidade.
“The Price of Privilege” é um livro interessante publicado pela doutora Madeleine Levine, onde ela explica como, na nossa necessidade de pais em educar filhos perfeitos e aptos para o futuro, o que estamos conseguindo é criar filhos “desconectados da felicidade”.
Educar é ser capaz de exercer a autoridade com amor, guiando seus passos com segurança e afeto porque a infância é um fundo de reserva para a vida toda.

Conseqüências de exigir demais das crianças

Existe uma coisa que precisamos considerar muito bem. Podemos educar nossos filhos na cultura do esforço, podemos e devemos exigir, sem dúvida, mas tudo tem um limite. Essa barreira, que deveria ser intransponível, é a de acompanhar a exigência a um colchão afetivo incondicional.
Do contrário, nossos filhos perfeitos serão crianças tristes que evidenciarão as seguintes dimensões:
  • Dependência e passividade: uma criança acostumada a ser mandada deixa de decidir por conta própria. Assim, sempre procura a aprovação externa e perde a sua espontaneidade, a sua liberdade pessoal.
  • Falta de emotividade: os filhos perfeitos inibem suas emoções para se ajustarem ao que “tem que ser feito”, e toda essa repressão emocional traz graves conseqüências a curto e longo prazo.
  • Baixa autoestima: uma criança ou um adolescente acostumado à exigência externa não tem autonomia nem capacidade de decisão. Tudo isso cria uma autoestima muito negativa.
  • A frustração, o rancor e o mal-estar interior podem se traduzir muito bem em instantes de agressividade.
  • A ansiedade é outro fator característico das crianças educadas na exigência: qualquer mudança ou uma nova situação gera insegurança pessoal e uma elevada ansiedade.

Pais exigentes frente a pais compreensivos

A necessidade de educar “filhos perfeitos” é uma forma sutil e direta de dar ao mundo crianças infelizes. A pressão da exigência irá acompanhá-las sempre, e mais ainda se a sua educação for baseada na ausência de estímulos positivos e de afeto.
Fica claro que como mães, como pais, desejamos que nossos filhos tenham sucesso, mas acima de tudo está a sua felicidade. Ninguém deseja que na adolescência desenvolvam uma depressão ou que sejam tão exigentes com eles mesmos que não saibam o que é se permitir aproveitar, sorrir ou cometer erros.

Características gerais

Neste ponto, é preciso saber diferenciar entre a educação baseada na exigência mais rigorosa e aquela criação baseada na compreensão e na conexão emocional com nossos filhos.
  • Os pais muito exigentes e críticos costumam apresentar uma personalidade insegura que precisa ter sob controle cada detalhe.
  • Os pais compreensivos “impulsionam” seus filhos para a conquista, permitindo explorar coisas, sentir e descobrir. São guias e não colocam fios nos seus filhos para movê-los como marionetes.
  • O pai exigente é autoritário e leva um estilo de vida que está sempre seguindo o relógio. Indica regras e decisões para economizar tempo através do “porque eu sei que é melhor para você”, ou “porque eu sou seu pai/mãe”.
Para concluir: educar é exercer a autoridade, mas com bom senso. É usar o afeto como antídoto e a comunicação como estratégia.
Nossos filhos não são “nossos”, são crianças do mundo que deverão ser capazes de escolher por si próprios, com direito de errar e aprender, com a obrigação de chegar à maturidade sendo livres de coração e com seus próprios sonhos para realizar.

Fonte: A mente é maravilhosa 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Família, escola e as férias!


Nesta semana ministrando a disciplina de Psicologia para acadêmicos da Pedagogia, meus alunos relataram um fato intrigante: Pais, que com a chegada das férias escolares, começam a ligar nas instituições de ensino questionando o que eles vão fazer com suas crianças.

Neste momento entra mais uma vez em embate a relação entre família e escola. A escola, como instância formativa, porém não a única, compreende o limite de seu papel e de sua responsabilidade junto às crianças. Por outro lado, os pais podem confundir este papel e atribuir à escola a responsabilidade de cuidado contínuo dos seus filhos. Muitas vezes, esta confusão por parte dos pais é reforçada por uma desresponsabilização e consequente terceirização da criação dos filhos, em outros casos deve-se também considerar a rotina de trabalho dos pais que acabam se vendo sem alternativas. 

Sendo assim, apesar das dificuldades enfrentadas, os pais precisam entender e respeitar os limites do papel da escola. Filhos demandam tempo! Se as condições financeiras não tem possibilitado uma carga horária menor de trabalho é dever e função dos pais pensar em alternativas para que esse tempo de férias seja aproveitado pelas crianças e ao mesmo tempo seja adequado à rotina de cada família. Assim, talvez emerjam algumas alternativas, tais como, levar a criança para ficar com um familiar que esteja com mais disponibilidade de tempo, procurar colônias de férias em centros comunitários, igreja, clubes... 
Enfim, desejamos que nestas férias que se aproximam cada família possa encontrar suas próprias alternativas, fazendo com que este período seja o melhor possível para todos!

quarta-feira, 22 de junho de 2016

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Não viva só por seus filhos!


 

Eu lhe suplico: não viva só por seus filhos! Eles não apenas precisam disso. Aliás, isso os prejudica. Quantas vidas truncadas, corações partidos, ressentimento e incompreensão! Conheço mulheres que se privam de tudo na vida por seus filhos, e depois vejo esses filhos por quem foram feitos tantos sacrifícios... é um espetáculo muito triste.
Mamãe criou o Carlos sozinha. Nunca se casou e investiu tudo em seu filho, comprou um apartamento para ele e pagou sua universidade. Ele se transformou em um homem maravilhoso e com sucesso profissional, hoje tem 50 anos e nunca se casou, não tem filhos. Tentou durante toda sua vida pagar a dívida com sua mãe.
O pai de Carolina trabalha dia e noite por seus filhos. Ele tinha grandes planos, especialmente para sua filha. Ela era talentosa e ele sonhava que se tornasse médica, por isso ele economizou para pagar sua universidade, mas ela recusou a oferta. Ela sentiu que queria viver sua própria vida, e que queria ser artista. Seu pai tentou fazê-la mudar de ideia e passou a conta. Somou tudo: o preço da educação na escola, das atividades extracurriculares, roupa, comida, e pediu que ela devolvesse o dinheiro. Acho que não é preciso dizer que Carolina nunca voltou a ver seu pai, e isso tem mais de trinta anos.
A mãe de Irene renunciou a sua vida pessoal. Depois de se divorciar, ela não conheceu outro homem porque tinha medo de traumatizar a filha. Irene, por sua parte, cresceu e agora não consegue deixar sua mãe ou falar sobre namorados. Irene vai fazer 40 anos, não casou e não tem filhos.
Os pais de Daniel e Camila são pessoas muito boas. Eles faziam tudo o que podiam e até o que não podiam para que os filhos tivessem o melhor. Sua família parecia feliz. Eles viajavam nas férias e celebravam juntos, mas com o passar dos anos, papai e mamãe se esqueceram que eram esposos. Nada mais os unia. Viveram juntos durante trinta anos como pai e mãe, mas quando os filhos saíram de casa, eles se separaram. Camila ainda não consegue entender o que aconteceu, já tem 37 anos, mas não quer casar, tem medo que a triste história dos seus pais se repita com ela, pois sua mãe perdeu muito de sua vitalidade após a separação.
Camilo foi uma criança tardia. Todos sempre faziam o que ele queria, cuidavam dele, até demais. Para falar a verdade, sua mãe cansou de esperar o príncipe encantado e decidiu que seu filho assumiria este papel, e que ela realizaria com ele o sonho de ter um homem perfeito. Tentou de todas as formas fazer dele um menino-prodígio pagando aulas particulares de diferentes idiomas, muitos cursos após a escola, e até aulas de harpa. Sua mãe estava orgulhosa e sempre pedia que ele tocasse algo para as visitas. Harpa é um instrumento muito exótico! Camilo já tem mais de 40 anos, está divorciado, outro homem cria seus filhos e ele não se incomoda com isso. Ele ainda não sabe o que quer da vida. Não se transformou em menino-prodígio, não resistiu a pressão e se entregou. Agora, bebe antes e depois de trabalhar. Sua mãe desconhece sua nova realidade.
Será que são poucas as histórias parecidas com estas? Por acaso este tipo de coisa não acontece com pessoas que parecem felizes? Quando a criança se transforma na razão de viver dos seus pais, isso se torna demais para ela. É como se a prendessem em um quarto no qual um dia o ar irá acabar. Ainda que no começo seja possível respirar, chegará o dia em que sufocará. Se sufocará no meio de tanto ’amor e cuidado’.
E, como se fosse pouco viver durante vinte anos (ou mais) uma vida que parece um deserto sufocante, de maneira geral o filho fica ali, e se mantém em dívida. É quando a respiração queima por dentro.
Depois disso há opções. O filho pode pagar a conta eternamente, como Irene ou Carlos (no início deste texto), ou se rebelar e começar a beber, e cortar todo tipo de comunicação, como Camilo ou Carolina. Quase ninguém consegue entender e aceitar um tratamento assim por parte de seus pais. É impossível aceitar algo assim sem sacrificar também a própria vida e os próprios interesses.
Por isso eu suplico: não viva só por seus filhos. Encontre outro significado para a vida, encontre outro sentido no fato de ser pai ou mãe. Para que meninos e meninas que nasçam no nosso Planeta não se transformem em devedores e vítimas da sua ’caridade’ e cuidado.
Ame seu companheiro ou companheira. As crianças irão crescer, e ele ou ela ficará com você. Pode ser você a dar exemplo às crianças ao redor de como levar uma vida saudável em casal, para que eles mesmos queiram ter sua própria família, mas você pode também truncar o desejo do seu esposo ou da sua esposa ao se meter demais nos problemas dos seus filhos, e se esquecer dele ou dela.
Ame-se. Não esqueça de si mesmo ao lutar pela felicidade dos seus filhos. Não se prive de comprar um vestido ou uma gravata (por exemplo) para comprar um novo brinquedo. Não troque de salão de beleza ou seu hobby para poder pagar um novo professor particular. Se você não cuida de si mesmo, o que pode dar aos outros? Que exemplo você dará? Que tipo de amor?
Busque o sentido da vida além das coisas materiais. Esta vida não é eterna, e assim será ainda que você não queira pensar nisso. A espiritualidade, a religião, as orações (ou qualquer forma de expressar sua espiritualidade) podem ser uma fonte de energia e vontade de viver que irão ajudar você a não jogar tudo nas costas dos seus filhos.
Não viva só por seus filhos, eu suplico. Quando encontro crianças e adultos cujos pais deram tudo e mais um pouco por eles, me dói muito olhá-los nos olhos. Em muitos deles, vejo a minha própria dor, vejo tristezas, corações partidos, almas vazias. Seus olhos gritam por ajuda, gritam de dor, de desespero e de culpa. Elas, como todas as crianças, querem amar seus pais, mas certamente não sobreviveriam aos seus cuidados.
Dê a seus filhos a oportunidade de viver e respirar. Assim, eles poderão crescer e se desenvolver na área a que foram destinados. Nosso papel como pais é muito simples: regar periodicamente, mas não esconder do sol, proteger das coisas ruins. Depois a criança, assim como uma flor, poderá crescer por conta própria e mostrar o melhor de si.

Autor: Olga Valyaeva
Tradução e adaptação: Incrível.club

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Como estrelas na terra: toda criança é especial

"Se a criança não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que ela pode aprender!" Marion Welchmann

É com essa reflexão que indicamos a vocês o filme, " Como estrelas na terra: toda criança é especial" um filme indiano sob direção de Aamir Khan, lançado em 2007. 

O filme retrata a história do jovem Ishaan, que tem apresentado muita dificuldade para se concentrar nos estudos, sendo alvo de diversas reclamações da escola e da família. Porém, ao ser enviado pelo pai para um internato, Ishaan se encontra com Nikumbh, professor substituto de artes, que percebe que a grande dificuldade da criança está relacionada à dislexia e logo começa a refletir sobre uma possibilidade de trabalho com ele, dando condições para que ele aprenda e retome sua vivacidade!

O fim de semana está chegando, que tal aproveitar para assistir esse belíssimo filme?!




quarta-feira, 15 de junho de 2016

A criança que aprende

"Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, ativo, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu". Emilia Ferreiro
#atividade #criança #conhecimento #construção #boaquarta

Imagem: Tonucci

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Desejo a você uma criança que...




Desejo a você uma criança…

que lhe desafie,

e então você pode aprender a perder o controle.

Uma criança que não sabe ouvir,

então você vai aprender a sintonizar.

Uma criança que adora deixar para depois,

e então você vai aprender a beleza de não fazer nada.

Uma criança que vive se esquecendo das coisas,

e então você vai aprender a se livrar de tanta coisa que te aprisiona

Uma criança que é excessivamente sensível,

e então você vai aprender a ser mais centrado.

Uma criança que é desatenta,

então você vai aprender a ser mais focado.

Uma criança que se atreve a rebelar,

então você vai aprender a sair fora da caixa.

Uma criança que sente medo,

então você vai aprender a confiar no universo.

Desejo que você seja abençoado com uma criança

que te ensine que nunca é sobre ela

mas sempre sobre você.

 De: Dr. Shefali (autora do livro The Conscious Parent)
  Tradução: https://antesqueelescrescam.com

sexta-feira, 10 de junho de 2016

A delícia de ser o que é!


   As crianças sempre nos surpreendem com sua habilidade de se expressar com espontaneidade. Elas nos chamam a atenção, o tempo todo, para revermos nossos padrões de comportamento e, inclusive, os padrões que impomos a elas. Em sua descoberta do mundo, dos outros e de si mesma, ela precisa ter a chance de experimentar, de se criar e recriar, explorando suas habilidades e desejos, a fim de ir, cada vez mais, se identificando consigo mesma! Assim, enquanto educadores (pais, professores...) temos o papel de dar suporte para essa expressão, fornecendo orientações e acolhimento, para que a criança possa ser quem ela quiser!

   Ashley dá um grande exemplo de espontaneidade e quebra de padrões! No "Dia das Princesas" de sua escola de balé, ela escolhe ir vestida de cachorro quente, ganhando a admiração da internet! O que chama a atenção em sua atitude é a liberdade de ser o que ela quiser, de se expressar genuinamente, segundo seus próprios critérios. O que não quer dizer que se vestir de princesa está errado, desde que a criança realmente queira se vestir assim e se sinta bem nesse papel! Com base nisso, ela pode ser quem ela quiser, uma princesa, um cachorro quente, um super herói, desde que isso a faça feliz!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Educação infantil é tão importante quanto a universidade, diz educador cubano

Alguns estudiosos e professores da área da educação defendem que a creche e a pré-escola servem para cuidar da criança, já outros dizem que são locais de brincar e aprender. Sobre este tipo de questionamento, o professor doutor Guillermo Arias, da Universidade de Havana, em Cuba, afirmou em entrevista ao "Programa Diálogos", da TV Unesp, que a fase inicial da educação infantil é tão ou mais importante que a universidade. Segundo ele, esta etapa da vida da criança contribui especialmente ao desenvolvimento integral como indivíduo.
Para o educador cubano, muitas instituições de educação infantil ficam restritas ao cuidado e não estimulam as habilidades e competências da criança – o que, segundo ele, realmente a prepara para novos desafios. O professor diz que a proteção também é um aspecto importante no ensino infantil, mas não é o suficiente.
Foto: reprodução TV Unesp
Foto: reprodução TV Unesp
Guillermo Arias, professor da Universidade de Havana, em Cuba
Para Arias, a educação é uma disciplina que precisa de apoio de outras áreas do conhecimento, como a psicologia, a antropologia e as ciências sociais e econômica. O professor explica na entrevista que a educação infantil promove o desenvolvimento psíquico que, por sua vez, contribui ao desenvolvimento da consciência e da formação da personalidade da criança. Para ele, esta fase do ensino deve ser estruturada para promover relações emocionais e afetivas através do conhecimento.
Foto: Shutterstock
O educador ainda ressalta a importância de que a criança construa, durante a educação infantil, a capacidade e a consciência de que a linguagem falada pode ser representada para que avance no processo da alfabetização. Arias defende ainda que o Ensino Fundamental deva ser uma continuação integrada e articulada com o ensino infantil, para que se garanta mais qualidade à aprendizagem.
Fonte: Catraquinha

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Por que as crianças precisam brincar com materiais não estruturados?


 Sempre pensei que as crianças não precisam de tantos brinquedos e que muitas vezes chegam a gostar mais da embalagem que o brinquedo em si. Mas ser mãe me fez aprofundar nessa afirmação tão simples, refletir sobre que materiais ofereço a meu filho, porque e que possibilidades de jogo irá desenvolver com cada coisa que se encontra em seu caminho.
Na realidade, muitos brinquedos que ele  ganhou, a empolgação acabou a partir do segundo dia. Alguns tiveram ainda menos sorte e não provocaram o interesse nem no momento em que ganhou. E alguns poucos brinquedos com mais sorte foram brincados por horas um dia ou outro.
Qual o secreto para o êxito? Certamente o mais importante é que esse brinquedo tenha alguma relação com seu destinatário, tanto com seus interesses como com a etapa evolutiva em que ele se encontra. Claro que a um bebe que está engatinhando, não iríamos presentar com uma bicicleta, certo?
Mas a parte de observar qual o interesse da criança,  considero que é importante que ao menos vários dos materiais que uma criança tenha a seu alcance sejam “jogos” não estruturados. Isto é, materiais que não tenham nenhum fim concreto. Com isso me refiro a blocos de madeira, pedras, paus, caixas de papelão, etc. Como você pode ver, não tem que ser um brinquedo. Ao contrário, os brinquedos estruturados são aqueles que têm um fim concreto, onde o próprio material já indica para que serve ( um quebra-cabeça, por exemplo), ou mesmo os jogos em que tem regras e normas claras ( esportes de equipe, jogos de mesa, etc).

Mas por que é importante oferecer materiais não estruturados? Porque quando damos brinquedos para as crianças com um “design” muito específico (ferramentas de trabalho, copos e pratos de brinquedo, carros com luzes e som, etc) muitas vezes não está surgindo o “jogo simbólico” e sim o que é imitação: as crianças usam esses materiais imitando o que fazem os adultos com eles e usando literalmente para o que servem. Mas a brincadeira realmente simbólica nasce quando as crianças brincam com alguma coisa diferente com um “material, brinquedo ou qualquer engenhoca”, isto é, quando brincam que pedras são carrinhos ou essas mesmas pedras se convertem em moedas, quando umas madeiras dão lugar a um ferro de passar roupa ou um telefone.

Nessa foto da Lia Duran, a criança brinca com um arco e flecha com dois galhos de árvore.


Abastecendo a todo tipo de brincadeira, um para cada coisa e função ( compramos a cafeteira, as xícaras, ou todo tipo de carrinhos e pistas, etc) estamos dificultando que nasça uma brincadeira de criatividade e acaba que fica somente na imitação.
Não faz muito tempo, uma amiga me contou uma história que me fez pensar e acho que tem relação com esse tema. Me disse que quando observava sua filha brincando empolgada  com alguma coisa de material não estruturado ( por exemplo, brincava com a tábua de passar roupa, usando um ferro de madeira) se comprasse a tábua de passar de brinquedo, ela deixava de brincar disso. E acho que precisamente é porque a brincadeira que ela fazia, o jogo simbólico que ela brincava, desaparecia ao ter um ferro “de verdade” em suas mãos. Era muito real e sobrava menos espaço para a imaginação
Claro que não estou defendendo que os brinquedos não são úteis, necessários ou divertidos. Porque não se trata de escolher entre os “brinquedos estruturados” e “brinquedos não estruturados”. Sería como dizer... Ofereço fruta ou verdura? Devo ler livros para meu filho com muita imagem ou pouca?  Pois com certeza, todos são bons e tem importância em seu desenvolvimento, certo? Por isso acredito que, junto com as brincadeiras clássicas de toda a vida que todos nós temos em mente, o ideal é colocar ao alcance das crianças materiais não estruturados.
Na realidade isso não requer muito da nossa parte porque a coisa menos pensada serve para brincar. Inclusive sem nenhum material pode surgir uma brincadeira não estruturada, somente com a imaginação.
Vou dar algumas ideais para que possam ver como os materiais não estruturados podem ser de muitos tipos e qualidades.
Elementos da natureza:
Acho que a natureza é um lugar perfeito de brincar, onde nada é estruturado. Como não tem brinquedos nela, as crianças se abastecem dela para brincar e usar a imaginação.
Costumam brincar com:
·         Galhos
·         Pedras
·         Folhas
·         Conchas
Os galhos da foto formam parte da nossa coleção. A foto já é antiga, prometo que a coleção aumentou alarmante... E até eu contribuo com ela. Vejo um galho no parque e penso... com este faremos isso, com aquele , faremos aquilo...


Materiais recicláveis
Na realidade, qualquer objeto serve para brincar usando a imaginação, inclusive aqueles que para os adultos não tem nenhuma finalidade e vão para o lixo. Por exemplo:
·         Tampas de garrafa
·         Rolhas
·         Rolo do papel higiênico e papel toalha
·         Caixas de papelão

Materiais comprados
Por sorte, cada vez mais marcas e fabricantes estão elaborando materiais não estruturados, que tem um “design” cuidadoso, com matéria prima de qualidade. Materiais que em si não são nada, mas que através da imaginação da criança se converte no que precisam.
Materiais Grimms
  Recentemente, conheci através do Instagram, a GRAPAT, uma nova marca espanhola que faz coisas tão lindas... Todas, com a ideia de ser elementos livres para brincar.



Também existem muitas marcas diferentes que fabricam eco blocos. Em casa fazem o maior sucesso. Serve para fazer torres, criar casas, muralhas, qualquer bloco de madeira pode se transformar em um carrinho, uma pessoa, etc.



BENEFÍCIOS DAS BRINCADEIRAS NÃO ESTRUTURADAS
Gostaria de acabar esse artigo resumindo que esse tipo de materiais tem um monte de benefícios para a criança:
Estimula o pensamento criativo: esse tipo de objeto não tem uma função clara assim que é a criança quem deve dar uma finalidade a eles e criar as histórias que quiser.
Se modificam de acordo a etapa de desenvolvimento da criança: como esse tipo de material não tem uma finalidade concreta e tão pouco está  elaborada, vão acompanhar a criança durante mais anos porque se adaptam a seu desenvolvimento e a suas mudanças de interesse
Este ano, por exemplo, minha filha e eu estamos passando algumas manhãs da semana com outras famílias que tem filhos mais velhos. Costumamos ir a um parque da cidade e observo como todas as crianças disfrutam do passeio mas cada uma usa aquilo que tem a seu alcance de uma forma diferente. Minha filha costuma brincar de fazer buracos na areia, e castelos com a areia que vai cavando. Uma amiga sua, de 9 anos, costuma usar a areia e a terra como uma arqueóloga. Adoro vê-la peneirando a areia com sua micro peneirinha, ou fazendo um caminho em volta de uma pedra para passar um carrinho.
Evita a estimulação excessiva: não tem luzes nem som, portanto, não tem estímulos externos, assim tem que sair de dentro da criança. Às vezes pensamos que se um brinquedo não é bastante estimulante... A criança vai ficar entediada. Pois genial! O tédio é um cenário magnífico para que a imaginação apareça em cena.


Torre em construção com cimento (areia e água) e madeira. Adoro quando as crianças inventam coisas assim.


Com certeza muitos de vocês já tem esse tipo de material em casa. Para quem não tem, lhes animo a coletar, reciclar ou mesmo comprar todo tipo de elementos e permitir que seus filhos os usem sem instruções ou direções. Não tem nada mais gratificante que ver os pequenos criando mundos fantásticos e histórias incríveis praticamente do nada.
Como material menos pensado, com os elementos mais simples, a magia da brincadeira acontece.

Um abraço,
Clara

Texto traduzido e adaptado por Jordana Balduino, do projeto “Criança em Questão”
Fonte: http://www.tierraenlasmanos.com/jugar-con-materiales-no-estructurados/
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