segunda-feira, 28 de maio de 2018

A universalidade do brincar

Júlio César Chaves*

Durante muitos – se não todos – os processos de formação, é frequente nos depararmos com a antiga questão de prática contra teoria. Uma longa discussão acerca do que pode ser aplicado, do que pode ser observado e em quais contextos uma se sobrepõe à outra. Não me proponho a oferecer respostas elaboradas acerca do tema, mas posso oferecer uma pequena parte da minha experiência no estágio.
Nos poucos momentos de encontro no CMEI, muito pode ser visto. Fatores positivos e fatores negativos – em toda área se tem dias tranquilos e dias difíceis. Contudo, algo que me chamou muito a atenção foi o quanto todos os estudos sobre a influência do brincar no aprendizado da criança se concretizaram diante dos meus olhos. A junção de teoria e prática nunca foi tão natural quanto poder participar de brincadeiras infantis e assistir a progressão e evolução da criança, ao passo em que ela compreende, assimila e readéqua o momento lúdico em outros aspectos de sua vida.
Por mais que dê para escrever parágrafos e parágrafos – com citações e referências – acho que todos já vimos o bastante sobre esse assunto. Por isso que estamos no estágio. Porque, agora, é hora de ver como acontece e, finalmente, compreender porque passamos tanto tempo investidos em nossos estudos. Sendo assim, escolhi deixar uma série de fotos, de vários locais do mundo, que ilustram a universalidade do brincar.

   

              

       

               

 


* Júlio César Chaves é graduando de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Brincadeira com afeto: o adulto também se afeta?

Rayane Neves *


A criança brinca. Este é seu ‘trabalho’, alguns diriam. Desde muito pequena, descobre seu mundo brincando, correndo, se escondendo, escondendo objetos e conhecendo outros novos, quaisquer sejam as condições e contextos. Nesta brincadeiras, demanda-se uma cota de disposição, energia, conexões neuronais a mil e aqui, como foco de discussão, um tantão de afeto.

Rodeada por seus pais, mães, cuidadores e cuidadoras, as crianças brincam e exploram este mundo. E sem pudor, querem companhias nestas brincadeiras. O sujeito adulto moderno, permeado por suas relações de trabalho e compromissos cotidianos muitas vezes, já cansados de um longo dia de trabalho, se deparam com um ‘ser humaninho’ dizendo “vamos brincar comigo?”.
A confusão de sentimentos pode ser infinita. Desejo de satisfazer a criança mas estressado com o chefe, culpado por não ter tempo para a criança mas justifica-se dizendo que tudo o que faz é pelo filho. Aqui, reconhece-se a validade de todas tais indagações e apreende-se que condições exteriores ao laço familiar existem e persistem na realidade contemporânea. Porém, uma questão pode ser posta: por que esta criança diz querer tanto brincar com um adulto, que mesmo já entendendo que é uma outra pessoa e que são diferentes, parece tão satisfeita quando brincamos junto? Tão satisfeita quanto nos momentos em que brinca com uma outra criança, tão parecida e similar a ela mesma?
Entende-se que não há uma resposta pronta, muito menos uma única, dependendo sempre de cada lugar, cada contexto, cada família e cada criança em questão. A proposição que aqui se encontra é a de pensar que quando nós, adultos, brincamos juntos - e juntos de verdade - a criança o sente. Se afetar com a brincadeira da criança, deixar que tanto a brincadeira quanto a própria criança te afetem, também as afetará. L. S. Vigotski (1896-1934) em sua teoria, dentre tantas outras contribuições, apresentou um elemento que pode ser bastante importante aqui: a criança aprende a partir de um outro que faz junto, imitando e construindo novas ações a partir das ações de um outro, e aqui defendido, de um outro que AFETA-SE junto com a criança.
Assim, quando o adulto se afeta, integra e reage à brincadeira em uma mesma sintonia que a criança que brinca, pode haver ali um momento de real integração, aprendizado, conjunção e harmonia entre dois seres humanos, sejam quais forem seus laços. Ainda, esses momentos podem ser vistos como uma escapatória ao nosso mundo mecânico e rígido, de falas controladas e ações calculadas, um mundo em que muitas vezes deixamos de falar o que sentimos e prevalecemos apenas o que é mais adequado. Na brincadeira, os sentimentos são reais, vívidos e genuínos, e a criança, o foco em questão, tudo vê e sente. Nos permitindo ser afetados e afetando o outro, comparecemos com o que é do humano e assim, nos humanizamos.
A importância de afetar o outro pode estar, então, em se permitir ser afetado em uma integração que pode ser leve e verdadeira. Desta maneira, afetando e sendo afetado numa ‘simples’ brincadeira, podemos construir importantes bases para uma valiosa “afetação humana” possibilitando, cada vez mais, estarmos abertos ao outro respeitando e acolhendo, principalmente quando este outro se trata de uma criança.
Para concluir, um trecho de uma entrevista da escritora Clarice Lispector dizendo sobre um senhor de meia idade que lhe dizia não entender uma de suas obras e sobre uma jovem, que dizia ser aquela mesma obra, a sua de cabeceira: “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...Ou toca, ou não toca”. (Clarice Lispector, 1977).

* Rayane Neves é graduanda de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

segunda-feira, 21 de maio de 2018

O não pelo não: vamos refletir sobre a postura autoritária?


Estou entrando no universo infantil agora, não tenho respostas e não sei se elas existem de fato. Mas quero propor aqui uma reflexão, compartilhar com vocês essa pulga que ficou atrás da minha orelha.
No meu primeiro dia de estágio me deparei com broncas “descontroladas”, gritos sem explicações, vozes vindas do alto que não faziam sentido algum para a criança. E a partir disso fiquei pensando se seria essa a melhor forma de lidar com as “feiuras” das crianças.
Quando presenciei essa situação me senti agredida e violada. A palavra também pode machucar. Pouco nos colocamos no lugar das crianças que recebem essas broncas. Sei que é difícil e a paciência também tem limites. Mas gritar palavras sem sentido pode não resolver a situação e ainda virar uma espécie de violência verbal.
Piaget nos ajuda a pensar sobre isso quando escreve sobre o desenvolvimento moral da criança. Ele nos apresenta três fases do desenvolvimento moral, a anomia (ausência de regras), heteronomia (quando as regras são vistas como algo externo e imposta de forma coercitiva) e a autonomia (quando as regras são internalizadas e significadas, os princípios morais são criados na criança).
O autor, então, vai colocar que uma postura autoritária e impositiva por parte dos adultos vai gerar uma sensação de medo e opressão na criança. O que pode não possibilitar o desenvolvimento de sua autonomia, que é baseada no respeito mútuo e na reciprocidade.
Pensando sobre isso, podemos refletir que essas broncas “descontroladas” e autoritárias deixam marcas no desenvolvimento moral da criança, criando relações de respeito unilateral, baseadas no medo.
Mas então, o que fazer nessas situações? Como já escrevi tenho mais perguntas que respostas sobre o tema. Porém, podemos pensar em “broncas” baseadas no diálogo, em um tom de voz não-agressivo e que possibilite à criança a compreensão de seus erros. E, para isso, temos que ter uma dose extra de paciência e empatia, pois fácil não é. Mas acredito que vale à pena refletir um pouco sobre esse tema e nossas práticas.
Agora proponho que vocês pensem um pouco sobre isso. Quais os limites da bronca? Existem outras possibilidades? Vamos pensar juntos(as)!

Referência: PIAGET, Jean . O Juízo Moral na Criança. SP: Summus, 1994(1932)
* Mariana Morais é graduando de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

domingo, 20 de maio de 2018

18 de maio: O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes



Violência sexual é definida como uma situação em que a criança ou o adolescente é usado para o prazer sexual de uma pessoa mais velha. Ou seja, qualquer ação de interesse sexual, consumado ou não. É uma violação dos direitos humanos e sexuais das crianças e adolescentes, porque abusa ou explora do corpo e da sexualidade envolvendo-as em atividades sexuais que não são apropriadas à sua idade, ou ao seu desenvolvimento físico, psicológico e social.
Diante do número alarmante de crianças e adolescentes que sofrem violência sexual todos os dias, principalmente dentro do contexto familiar, além do combate a prevenção é necessária. Para tanto, é preciso construir na criança a noção de que o corpo dela é privado e ensinar sobre o que é consentimento. A criança deve aprender desde muito cedo quais são as partes consideradas íntimas do seu corpo e que nelas um adulto só pode tocar quando a finalidades for cuidados higiênicos e/ou de saúde. Isso é educação sexual. É preciso compreender que tanto a fala quanto o silêncio educam, mesmo que de formar completamente diferentes, daí a necessidade de tentar responder as perguntas das crianças, além de explicar coisas que para os adultos parecem simples, mas que elas ainda estão descobrindo. Atitudes simples do dia-a-dia podem transmitir esse aprendizado tão importante, como ensinar a pedir permissão antes de abraçar ou beijar alguém, não forçar abraços ou beijos quando a criança diz não, pedir permissão ao seu filho para tocá-lo durante o banho.
Ensinem as crianças a dizer que não é não!
Em caso de suspeita Disque 100 ou procure qualquer Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente de sua cidade.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O touro Zezinho

Diego Braga*

Era uma vez numa fazendinha,
Um touro chamado Zezinho.
Ele morava numa casa apertadinha,
Mas que nunca faltava carinho...
Um belo dia decidiu mudar
Colocou uma argola no focinho
E queria a todos impressionar! 
Zezinho ficou tão contente,
Para todos queria mostrar.
Mal sabia ele
Que todos iriam o zombar…
Quando chegou na escola
Os amigos que tanto amava,
Riram até a barriga inchar! 
A professora dos bichinhos,
Sempre tão bondosa
Falou para os pequeninos:
“O Zezinho ainda joga bola
E brinca como a gente…
Aqui dentro da escola
A diferença é aceita alegremente!” 
Zezinho logo mostrou,
Que era inteligente como ninguém!
Apesar da sua argola no focinho,
Tinha que ser respeitado também.
Os outros animais logo perceberam,
Que deviam sempre respeitar....
Pois no mundo inteiro,
Todos têm o direito de brincar!

Eu tinha feito esse texto no dia que cheguei em casa da primeira supervisão... apesar de tudo que conversamos não tinha me sentido confortável pra publicar por não ser "acadêmico" ou simples demais... Mas enfim, é isso! Acho que seria legal pra ler pras crianças... O touro foi algo que apareceu na minha supervisão, e assim como eu, também tem um ressaltante 'piercing' no nariz haha (Diego).
Diego Braga é graduando de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia.

sábado, 12 de maio de 2018

“Dia das mães” ou “dia de quem cuida de mim”?



Essa semana as escolas se prepararam para homenagear as mães de seus alunos. Apresentações, lembrancinhas e muita emoção envolvem esse ambiente nesses dias.  Não tem quem não contenha as lágrimas ao ver as crianças desde tão pequenas declarando o seu amor para as mamães.
Mas já parou para pensar naquele aluno que a mãe não estará presente? Isso é real, possível e cada vez acontece com mais frequência. Não se trata de escolhas. São muitos os motivos, se considerarmos as  distintas configurações familiares ou a impossibilidade da presença das mães nesse evento. Seja por trabalho ou por uma longa distância física ou muito mais do que isso. Situações de morte, adoção por casais homossexuais, criação assumida por outros adultos ou a impossibilidade de convivência temporária com os genitores, são algumas das causas pelas quais muitas crianças acabam ficando deslocadas nessa época do ano, nas quais o público homenageado não corresponde à realidade vivida dentro de casa. É UMA FALTA, mas é A FALTA que dói, que exclui e que faz com que essa ou aquela criança não se sinta acolhida em um espaço que deveria ser para todos. Afinal, a diversidade está sendo respeitada?
Até quando vai ser assim? Ou podemos pensar em alternativas a essas situações, propondo homenagens que deem conta de incluir todas as pessoas? Que tal pensarmos em propostas mais inclusivas para receber as famílias no ambiente escolar?
Algumas escolas já vêm repensando essa proposta no Brasil e no mundo, sugerindo o “dia da família” ou o “dia de quem cuida de mim”. Nesse dia, as crianças têm a oportunidade de homenagear mães, pais, avôs, avós, irmãos, irmãs, tios, tias, padrinhos, madrinhas, babás ou quem quer que deseje convidar. Uma mudança que parece simples mas é muito significativa, visto que contempla a diversidade de cada história de vida, acolhendo diferentes formas de se viver e se relacionar afetivamente com as crianças.
Dentre várias escolas que adotaram essa mudança, a escola Estadual Professor Alvino Bittencourt, da cidade de São Paulo, há três anos não comemora o Dia das Mães ou Dia dos Pais. Em vez da celebração tradicional, a escola criou em seu calendário dois dias anuais especialmente para homenagear "Quem cuida de mim".
A vice-diretora Simone Lopes Guidorizzi conta que a ideia com o novo tema é acolher as diferentes constituições familiares:

“Percebíamos que com a chegada das tradicionais celebrações familiares aqueles alunos que não têm mais mãe ou pai ou que não podem conviver com eles ficavam muito tristes por não ter nenhum dos dois ali na plateia. Então trocamos para o Dia de Quem Cuida de Mim e todos se sentem integrados, as crianças estão mais confiantes”.

Isso não significa que não haverá mais comemorações particulares com mães e pais, porém a escola, como um espaço que abriga tantas biografias precisa ter um olhar cuidadoso ao propor o mesmo cenário para todos.

“Respeitar a pluralidade e valorizá-la no meio coletivo é muito importante para que os pequenos sintam que existe lugar para todo mundo em nossa sociedade. E isso só se torna possível a partir do encontro com as diferenças, proporcionado desde cedo para trazer o entendimento de que elas existem e nos enriquecem de muitas formas” (https://goo.gl/iS7WNn).

Afinal, 1000 mães podem estar presentes, sendo homenageadas, mas se a mãe de uma criança faltar, é como se não tivesse ninguém na plateia. Seu olhar se perde naquela multidão e tudo que ele mais queria naquele momento era ter alguém para entregar a tão preparada “lembrancinha” e poder declarar seu amor.
Independente do seu contexto familiar, que tal olharmos para a realidade do outro? Não seria hora de realizarmos mudanças que são tão pequenas para nós, mas tão significativas e fazem toda a diferença para tantos?

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O “bebê fujão”: um encontro por meio do brincar


Débora Damacena de Andrade*


Em um lugar estranho, à procura de sua figura de apoio, eles choram, fogem, rejeitam a comida, adoecem. Inimaginável é a angústia desse completo desamparo. A experiência no berçário de uma creche me fez entrar em contato direto com a vivência de bebês, que de uma hora para outra precisam adaptar-se a separação de seus cuidadores e permanecer em um universo completamente desconhecido. Um novo ambiente, agora, vai fazer parte do seu modo de existir no mundo e em busca de comunicar-se, eles utilizam-se dos recursos que possuem. Engatinham para fora da sala na busca daquilo que se foi, pelo menos foi esta a reação de um bebê apresentado como “bebê fujão”. Essa foi a forma que ele encontrou de dizer da sua angústia de separação da mãe.
Como lidar com esses sentimentos e emoções expressos por criaturas tão pequenas? A brincadeira apareceu-me como uma resposta possível. O bebê que fugia em determinado momento foi ao encontro do velocípede e em auxílio, coloquei-o no brinquedo e começamos a correr com o brinquedo. Gargalhadas. No decorrer da manhã, o bebê fujão passou a recorrer-se a mim, não mais fugia. Teria ele encontrado uma maneira de lidar com sua angústia?
Essa vivência me fez pensar na brincadeira como meio de interação com bebês no ambiente da creche e como forma de possibilitar-lhes uma forma de ressignificar o sofrimento de separar-se dos pais. Na psicologia, Freud fez referência ao brincar a partir da observação de seu neto brincando com um carretel. Ele percebeu que o jogo de aparecer e desaparecer instaurava a separação, simbolizava um desaparecimento. Era dada, portanto, a representação a uma perda, uma maneira de lidar com a angústia. Melanie Klein, uma psicanalista de crianças, colocou que “O medo de perder a mãe torna doloroso o afastar-se dela, mesmo por certos períodos; e várias formas de brincar dão expressão a essa ansiedade e são um meio de superá-la” (1982, p. 277). Dessa forma, por meio do brincar, o bebê pode elaborar a ausência do outro, suportar a frustração da espera, transformando seu desconforto em um jogo prazeroso relacionado ao outro.

Referências:

KLEIN, M. At all. Os Progressos da Psicanálise. Editora Guanabara. Rio de Janeiro, 1982. Tradução de Álvaro Cabral.

*Debora Damacena de Andrade é graduanda de Psicologia ( UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia.
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