sexta-feira, 26 de junho de 2015

Pais buscam coaching até para crianças de apenas dois anos

Diante desta notícia, abaixo compartilhada, publicada pelo Estadão, o CEQ  problematiza algumas questões...

E o brincar? Não estamos esquecendo que seria uma oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento para a criança? Afinal é através do brincar que ela experimenta o mundo a sua volta, aprende as regras, os papéis sociais, a cooperação e a ser criativa. Aprende também os prazeres e desprazeres de ganhar e perder, elabora sua autonomia e seus sentimentos. Inúmeros são os estudos de diferentes áreas que se debruçam sobre a importância do brincar. Não deveríamos rever alguns deles ? O brincar é a linguagem, a forma de expressão da criança. Talvez não seja o melhor caminho ignorar isso com técnicas terceirizadas e outros recursos que ainda não fazem sentido pra elas.

Segue a notícia:


Pais buscam coaching até para crianças de apenas dois anos

Depois do inglês e do futebol, meninos e meninas agora aprendem a desenvolver liderança, confiança e pensamento crítico desde cedo

 Além das aulas de inglês, futebol, natação, piano, canto e dança, os pais também estão incluindo na agenda semanal dos filhos as sessões de coaching para desenvolver habilidades sociais e de aprendizado. O treinamento - que nasceu no meio empresarial para melhorar o desempenho de funcionários e gestores - já tem versões até mesmo para crianças de 2 anos.
Treino. Ao buscar aulas de coaching para Henrique e Laura, Ieda Cabral de Lima descobriu que poderia aplicar o aprendizado em casa
Treino. Ao buscar aulas de coaching para Henrique e Laura, Ieda Cabral de Lima descobriu que poderia aplicar o aprendizado em casa
A pedagoga Cintia Bozza, de 44 anos, procurava um "estímulo maior" para os filhos Eduardo, de 7 anos, e Maria Eduarda, de 5. Por isso, ela os matriculou há dois anos no curso de coaching da Fastrackids, empresa com método educacional criado nos Estados Unidos e que tem dez franquias no Brasil.
"A mudança maior foi com o Eduardo, que era mais tímido, e começou a ter espírito de liderança e se posicionar mais. A Maria (à época com 3 anos) desde bem pequenininha já se mostrava como líder", contou Cintia.
Liderança, confiança e pensamento crítico são parte do currículo da empresa, que tem um programa de dois anos para crianças de 2 a 8 anos. "A gente trabalha com essa idade por ser a principal janela de oportunidade cerebral. Por isso, temos um currículo superior ao das escolas, com aulas de astronomia, economia. Porque é preciso tirar a criança da zona de conforto para promover um maior desenvolvimento cerebral", diz Ana Paula Harley, franqueadora master da rede no Brasil.
Semanal. Com mensalidades de aproximadamente R$ 210, o programa oferece, em geral, uma aula por semana. Segundo Ana Paula, a rede já tem cerca de 3 mil alunos no País.
Cintia, que também tem uma filha de 26 anos, disse que Eduardo e Maria Eduarda já mostram uma independência maior do que a irmã mais velha, que não teve a orientação do coaching. "Ela não tinha a independência e a organização dos dois. Hoje, ela é pesquisadora (faz mestrado em sociologia), mas a muito custo. Ela só foi aprender a se organizar no nível acadêmico, não quando criança", afirmou.
Objetivos. A coach Tânia Sakuma, especialista em educação infantil, explicou que, para que o treinamento seja efetivo, é preciso haver o comprometimento dos pais para entender quais objetivos podem ser alcançados e em quanto tempo. "Cada fase tem seu desafio, assim como cada criança. Não queremos transformá-la em um prodígio, mas extrair o potencial dela para que desenvolva habilidades para viver melhor."
A analista de sistemas Ieda Cabral de Lima, de 37 anos, buscou as sessões de coaching com Tânia para os filhos Laura, de 9 anos, e Henrique, de 7, quando percebeu que não conseguiria encontrar sozinha a solução para alguns obstáculos no comportamento das crianças. "O santo de casa não iria fazer milagre", disse Ieda.
"A Laura se dispersava muito fácil. Já o Henrique se preocupava muito com a irmã, apesar de ele ser o mais novo. As sessões (que eles fazem juntos) ajudaram a equilibrar essas duas situações e eu vi como poderia aplicar isso em casa também", contou a mãe.
De acordo com a coach da empresa CrerSerMais, Roselake Leiros, um dos principais focos do treinamento é o comportamento dos pais. Segundo a especialista, a maioria das famílias que a procuram tem pais extremamente preocupados com os estímulos das crianças ou pais que deixaram a situação sair de controle e não sabem exatamente como lidar com os filhos.
Perda de tempo destinado a brincadeiras. Para os especialistas, mesmo que o coaching tenha abordagem que pareça leve e divertida para as crianças, é preciso cuidado para que ele não tire parte importante do tempo que deveria ser destinado a brincadeiras.
Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), disse que é preciso refletir, a partir de cada caso, se as famílias não estão antecipando etapas do aprendizado e, com isso, reduzindo a infância.
“Não existe certo e errado na educação, mas precisamos refletir que muitas famílias se preocupam em preparar a criança para a vida, com uma crença de que há uma disputa acirrada na sociedade e que é preciso prepará-los para a disputa.”
Telma Pileggi Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, disse que mesmo que as atividades desenvolvidas no coaching pareçam com brincadeiras, elas não dão a liberdade que a criança precisa. “A brincadeira é dirigida, e o adulto é visto como autoridade. Quando são só crianças, elas precisam se entender, resolver conflitos.”
Terceirização. Telma afirmou que o excesso de atividades a que os pais submetem os filhos preocupa por ser uma “terceirização da educação”. “Nenhum pai quer que o filho tenha algum tipo de problema ou dificuldade, mas ele precisa enfrentar, sem passar a responsabilidade para um profissional, uma escola, empresa.”
Para os especialistas, é preciso entender que algumas características fazem parte da personalidade da criança e precisam ser respeitadas.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Sintoma da criança, da família ou dos educadores?



Desvincular a compreensão da criança da compreensão de sua família e de seus contextos é ignorar que sua formação e constituição ocorrem em cada relação singular que ela vivencia. Será que as dificuldades e os comportamentos "inadequados" da criança dizem exclusivamente desta criança? Que tipo de mudança estamos querendo? A quem esta mudança realmente beneficia? Temos que nos questionar! Sempre e sempre..

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Que comportamentos estamos reforçando em nossas crianças?


Quantos de nós nos identificamos com essa tirinha? 
Quantas vezes, tentando acertar, acabamos favorecendo os "maus comportamentos" das crianças? 
Vale a pena refletir como nossas ações influenciam o desenvolvimento infantil!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A arte de se fazer entender!

Trabalho incrível da artista britânica Maira Tiurina que ilustrou palavras "intraduzíveis" de diferentes idiomas.

Não é toda palavra estrangeira que conseguimos traduzir, literalmente, para a nossa língua materna, já que sua estrutura afeta nossos processos cognitivos e a maneira como a gente raciocina e articula as ideias. Já pensou em traduzir a palavra “cafuné” para o inglês? Impossível, a não ser que você desenhe o significado da palavra…
Foi o que fez a artista britânica Maria Tiurina na série chamada “Palavras Intraduzíveis” (Untranslatable Words). São 14 ilustrações de palavras de diferentes idiomas, incluindo a palavra cafuné. É pra inglês ver!
Cafuné, do Português brasileiro: O ato de ternura dos dedos correndo pelos cabelos de alguém
O ato de ternura dos dedos correndo pelos cabelos de alguém.
Gufra, do Árabe: Quantidade de água que você pode segurar nas mãos.
Quantidade de água que você pode segurar nas mãos.
Schlimazl, do Ídiche: Uma pessoa com azar crônico.
Uma pessoa com azar crônico.
Duende, do Espanhol: O misterioso poder que uma obra de arte tem e que toca as pessoas profundamente.
O misterioso poder que uma obra de arte tem e que toca as pessoas profundamente.
Tingo, do Pascuense: O ato de pegar todos os objetos que você gosta do seu amigo, gradualmente, pedindo emprestado.
O ato de pegar todos os objetos que você gosta do seu amigo, gradualmente, pedindo emprestado.
Kyoikumama, do Japonês: Uma mãe que fica em cima do filho para que ele tenha um bom desempenho acadêmico
Uma mãe que fica em cima do filho para que ele tenha um desempenho acadêmico.
Torschlusspanik, do Alemão: Medo de que diminua as possibilidades conforme a idade passa.
Medo de que diminua as possibilidades conforme a idade passa
Palegg, do Norueguês: Qualquer coisa que você pode colocar em uma fatia de pão.
Qualquer coisa que você pode colocar em uma fatia de pão.
Age-Otori, do Japonês: Quando você fica pior do que estava antes de cortar o cabelo.
Quando você fica pior do que estava antes de cortar o cabelo.
Luftmensch, do Ídiche: Refere-se a alguém que é sonhador. Significa literalmente: pessoa aérea.
Refere-se à alguém que é sonhadora. Significa literalmente: pessoa aérea.
Baku-Shan, do Japonês: Uma garota que é bonita desde que você só a veja de costas
Uma garota que é bonita desde que você só a veja de costas.
Schadenfreude, do Alemão: Aquela sensação de prazer ao ver a desgraça alheia.
Aquela sensação de prazer ao ver a desgraça alheia.
Tretar, do Sueco: É o segundo refil, ou melhor, a terceira vez que você repete
É o segundo refil, ou melhor, a terceira vez que você repete.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Pequenas histórias de meninos que (não) falam

Por Ana Clélia de Oliveira Rocha
Tudo pra ser
Aquilo tudo que todo mundo espera
Todo um perfil
Aquele jeito que todo mundo gosta
Tudo pra ter… Tudo!
Um jeito que agrada… Todos!*

Ricardo é hoje um garoto de 13 anos. Chegou ao consultório com 2 anos, fralda, mamadeira e uma particularidade: não falava. Trabalhamos durante onze anos e, em dezembro do ano passado, Ricardo teve alta.  De vez em quando, almoçamos e ele me diz :  “Agora sou seu amigo”. E me pergunta: “Você me ensinava a falar as palavras, né?” Estamos caminhando e passa um menino gaguejando muito ao nosso lado.
- “Como se fala o que esse menino tem que não consegue falar direito?”
- “Gagueira!”
-  “ Viu, Ana, amigos podem também nos ensinar as palavras.”
Nunca falamos em autismo.
Tudo afiado na ponta da língua
Tudo decorado de cabeça
Você permanece muito combinado, calculado
Mesmo sem medida
André é um garoto que conheci quando ele tinha 5 anos. Falava, falava muito, mas não nomeava, descrevia tudo: “Ana, quero aquele tabuleiro com dados e pinos vermelho e azuis”. Falava sempre em terceira pessoa: “O André quer ir pegar o papel”.   Emitia  frases feitas sempre, semelhantes aos ditados populares. “Amigo é quem está na escola.” Não eram frases repetitivas, ecolálicas,  mas elas soavam como tiradas de um livro, de  histórias já contadas. Ele é um menino  teatral e começa a aprender a escrever. Adora. Rapidamente torna-se um leitor também. Neste momento, agora com 7 anos, começa a nomear-se em primeira pessoa:  “Eu vou com a Ana para a sala”. Eu passo a ser a terceira pessoa, não sou você, mas a Ana.  Um bom deslocamento.
Nunca falamos em autismo.
Muito pra ver
O que te falta, o que todo mundo espera
Está por um fio
Aquela cara que a gente mais venera
Pode apostar… Tudo!
Fernando é bem pequeno. Tem também 3 anos quando o conheço. Não me olha, não fala, é quieto, mas chora.  Eu o vejo durante um ano, sempre duas vezes por semana, a mãe precisa entrar na sala, desenhamos,  brincamos com instrumentos musicais,  ficamos no chão imitando cachorros, gatos… Atualmente está com 4 anos, sobe sozinho comigo para o atendimento, pede um tempo de silêncio, depois me olha profundamente, eu insisto e brincamos de carrinho, trenzinho, onde colocamos o papai , a mamãe, a Elena (sua irmã),  eu, a Julieta… Repetimos esta brincadeira toda semana, mas ele a cada dia parece olhar mais, acrescentar um carrinho, enfim, pede para ir ao banheiro… Na última sessão eu fiz um rosto no papel e ele disse: “Falta” – e completou desenhando o corpo.
Nunca falamos em autismo.
Tudo!
Tanto que falta para chegar no ponto
Tanto que falta para ficar ok
Tanto que falta para chegar no ponto
Tanto que falta para ficar ok
Tanto que falta para chegar no ponto
Tanto que falta para ficar

Meninos exemplares de como a falta da fala, de como um silêncio que se prolonga numa época na qual as palavras explodem na vida de uma criança, precisa ser cuidada.  Não para desaparecer, mas para estabelecer laços e  falar-se.
Nunca falamos em autismo. Sabemos que algo desta ordem entra em cena no tratamento e na vida destas crianças e suas famílias, mas não foi este significante que marcou/determinou/orientou  o trabalho terapêutico, pois quando entramos neste mundo enigmático da aquisição da fala não temos um mapa que nos guie e garanta o que lemos nos manuais:  que aos 2 anos uma criança fale frases com 2 palavras, que aos 3 tenha pequenas narrativas e que aos 5 a aquisição esteja completa em todos os aspecto, que a criança se torna, enfim uma falante plena, e mais… pode começar a aprender a escrever!
Muitas crianças vão construindo uma entrada própria no campo da linguagem, que pode ser  mais lenta e deixar o outro angustiado, pois num mundo onde tudo é muito rápido, onde o tempo tem que ser bem empregado, “o que ele está perdendo vai ser possível recuperar?” Perguntas que são formuladas de modos diferentes pelas famílias, mas que traduzem a angústia do tempo que corre e que seus filhos parecem não conseguir alcançar.
Há crianças cujo percurso exige mais cuidado, atenção, questionamento, troca e parceria neste tempo do desenvolvimento. Crianças com as quais temos que aprender a sustentar um outro tempo, um tempo exclusivo e próprio de cada uma. Percursos que também podemos percorrer, sempre!
 * OK, Tulipa Ruiz
Fonte: Estadão Blog  Criança em desenvolvimento

segunda-feira, 15 de junho de 2015

quarta-feira, 10 de junho de 2015

E aí, será que a bandeja das oportunidades são as mesmas para todos?


Já que todos temos, supostamente, as mesmas oportunidades, resta a escola e a sociedade aferir com precisão como cada indivíduo tem aproveitado suas chances. Eis aí a faliabilidade da meritocracia! Há que se questionar e considerar mais coisas... o buraco é mais em baixo.


Publicação original de The Wireless. Tradução por catavento



segunda-feira, 8 de junho de 2015

O excesso de vaidade na infância


Além de ser psicóloga e professora, sou mãe de uma menina de 7 anos e tenho muitas angústias, como muitas de vocês, em relação a sua educação.

Um tema que tem me preocupado muito são os padrões de beleza impostos a nossas crianças tão precocemente fazendo com que tenham uma vaidade, em muitos casos, excessiva. Vejo meninas preocupadas com roupas e acessórios da moda, em ir a salões de beleza para fazer progressiva e escova e principalmente com uma preocupação ao “culto ao corpo” em que comer bem e fazer exercícios físicos passam a ter como objetivo principal não a saúde e sim a beleza e o emagrecimento. A indústria e comércio não perdem tempo, se aproveitam desses padrões de beleza para incentivar esses comportamentos e fazer com que as crianças consumam produtos desnecessários, fazendo-as acreditar que ao “comprar um produto”, estão se aproximando desse modelo ideal.

Será que temos que encarar isso com naturalidade e pensar que se trata da infância atual? Acho que não. Temos que pensar se não estamos formando adolescentes cada vez mais reféns desses padrões de beleza da mídia, tão sonhados por todas e ao mesmo tempo tão irreal e inalcançável. Entre várias consequências na vida futura das crianças, podemos pensar em algumas: baixa autoestima por não se aceitar como é, cirurgias plásticas (para conseguir tamanho de seio ideal e outras alterações de suas características físicas) e outros tratamentos perigosos e dolorosos, como muitos que temos visto nos noticiários.
Por Jordana Balduino




quinta-feira, 4 de junho de 2015

Por favor, repare a bagunça!


Quem não queria que sua casa fosse igual a um apartamento decorado, ou a uma dessas casas de
revista de decoração? Eu queria! E inclusive já tentei que ela fosse!
Queremos viver uma vida perfeita, organizada, sem pedras (ou brinquedos!) pelo caminho, e desejamos que a nossa casa reflita essa perfeição. Mas o que a Renata Penna, do Uma vez mamífera, nos conta (e nos conforta) de uma forma muito divertida, é que a "bagunça" das nossas casas, nossas e das crianças, demonstram que ali existe vida e que não estamos apenas existindo, mas vivendo, com tudo que essa palavra envolve!
Confiram!


Quem não gosta dos ambientes milimetricamente calculados das revistas e mostras de arquitetura? Móveis arranjados com perfeição, almofadas estrategicamente posicionadas, tapetes tinindo de novos, cortinas sem uma mancha de gordura, rodapé combinando com a maçaneta da porta, souvenirs obsessivamente posicionados sobre as prateleiras, bem ao lado de um porta-retrato brilhante da família sorridente, de férias em um lugar paradisíaco qualquer. Tudo combina com tudo, e nada foge ao script. Quem não gosta?

Eu gosto. Pra ver. E também já quis viver em um ambiente assim, confesso. Aliás, acho que passei um tempo precioso perseguindo esse ideal da casinha de bonecas – e sofrendo por, obviamente, não conseguir alcançá-lo.
Aqui em casa, sempre encontramos um brinquedo esquecido pelo chão, ou debaixo do sofá, ou por trás das almofadas. Uma camiseta, ou pé de meia, ou calcinha, ou pé de chinelo, sempre acha de se esconder nos lugares mais inusitados: embaixo da mesa de jantar, por entre os livros da prateleira, na gaveta do banheiro, por baixo das almofadas.
Não passamos roupas. Elas vão direto da máquina de lavar e secar para o armário – ou, quando falta o tempo, para uma prateleira do quarto, de onde são estrategicamente recolhidas para ir direto para o corpo, na hora da necessidade.
A área de serviço, com seus cestos coloridos, está sempre entulhada: raramente conseguimos colocar as roupas em dia. A louça do dia a dia vai sendo esquecida na pia, até que ela encha e seja a hora de fazer um ciclo na lava-louças (artigo cujo inventor abençôo silenciosamente todos os dias – embora só há pouco tenha acabado de pagar suas infinitas prestações).
No banheiro, já há muito desisti de arrumar em frente ao espelho pequenos frascos de perfume (que aliás não usamos, e só servem mesmo para juntar pó) ou outros souvenires decorativos. A decoração é minimalista, e normalmente inclui um bonequinho de playmobil, uma pecinha colorida de lego e um giz de cera perdido do estojo.
Nossa sala é alegremente adornada por mochilas de bichinho, livros e dvds empilhados aqui e ali, um quadro coloridíssimo pintado pelas pimentas pendurado na quina (elas mesmas escolheram um lugar e inventaram um meio de fazê-lo) da janela, a mesa coberta por uma toalha de chita sob um plástico transparente (não muito bonito, mas bem mais prático para a limpeza do dia-a-dia).
A casa da revista de decoração é linda, é perfeita, é impecável, mas não tem vida. Porque gente vivendo em casa bagunça, tira as coisas do lugar, suja, mistura, deixa suas marcas da vida de todos os dias. A casa da revista de decoração é linda, mas não tem história. E mais importante: não tem a nossa história.
Nossa casa tem crianças, mas mais do que isso: ela tem vida. Nela vivem pessoas que trabalham, comem, brincam, estudam, choram e dão risada, desejam coisas, sonham e realizam. Como querer que esteja tudo sempre arrumadinho? Nossa vida interior não é arrumadinha! Por que a exterior deveria ser?
Cada pedacinho da nossa casa conta uma história particular e especial – fala sobre os nossos erros, sobre os nossos acertos, sobre o que gostamos e o que não, sobre as nossas impossibilidades e limitações, sobre aquilo tudo que fazemos bem, sobre aquilo que nos faz felizes.
Então, da próxima vez que eu receber uma visita em casa, não vou dizer: “por favor, não repare a bagunça…”. Ao contrário. Vou dizer, em alto e bom som, e com um sorriso de orelha a orelha: “por favor repare a bagunça, ela tem muitas histórias pra contar. e lembre-se: ela é diretamente proporcional à alegria dos moradores da casa!”.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A criança e as infâncias

Por muitas vezes, em nosso dia-a-dia, aproximamos os termos infância e criança como se eles fossem sinônimos. Apesar de não haver grandes diferenças disso no cotidiano estes termos se referem a diferentes fenômenos que devem ser esclarecido para entendermos nosso papel nisso.

Criança diz respeito ao indivíduo, ao ser nos momentos iniciais da vida, o filhote do homem. Em aspectos gerais, pode-se dizer que não há grandes diferenças entre uma criança e outra, no que se refere a sua estrutura biológica e corporal. Todavia, quando estamos falando de infância a coisa muda. E muda de contexto para contexto, de cultura para outra. A infância daqui não é mesma dali e a de ontem não será a mesma da de amanhã. E por isso, em muitos lugares a infância nem sequer existe como a concebemos... (Esta concepção, antes inovadora, ganhou cena com o livro de Ariès, “História social da infância e da família” ainda no século passado).

Se não existe uma infância universal, quer dizer que esta é uma construção histórica e cultural, feita por nós, homens concretos, a partir de nossa realidade e época. Isto nos ajuda a não pensar que toda criança é igual e tomar todos seus comportamentos como naturais. As idades da vida não devem ser abstraídas, mas pensadas conforme a realidade particular de cada um.

Se sua infância foi brincar nas ruas de amarelinha, pique-esconde e assistir TV Colosso, a de seu filho pode estar mais ligada a jogar Angry Birds e assistir Peppa Pig. As diferentes infâncias estão presentes no Brasil e no Japão, na grande São Paulo e no interior do Amazonas, dentro da casa do Empresário e do trabalhador, dentro da minha casa e da sua! 

Quando ligamos a criança à sua realidade social descobrimos, além da diferentes formas de viver a infância, nossa responsabilidade nisto tudo! Qual estilo de vida que as infâncias que construímos proporcionam as nossas crianças? Por qual infância lutamos? Defendemos para todas (bom seria) as crianças o direito de viver qual infância? Afinal, qual infância queremos? Talvez encontremos algumas destas respostas ao ligarmos nossa TV ou ao observarmos os produtos vendidos direcionados às nossas crianças, seus brinquedos, suas roupas, sua alimentação, seu modo de falar, sonhar e enxergar a realidade. 

Como sugestão fica o documentário dirigido por Liliana Sulzbach, disponível na internet, “A invenção da infância”.

Texto por Stéfany Bruna

Fonte da imagem: Montagem feita do ensaio fotográfico de Gabriele Galimberti. Fotos das crianças ao redor do mundo com seus diferentes brinquedos. Um contraste entre a universalidade de ser criança e a diversidade cultural!


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