segunda-feira, 9 de julho de 2018

Criança saudável é espontânea, barulhenta, inquieta, emotiva e colorida!


Uma criança não nasce para ficar quieta, para não tocar nas coisas, ser paciente ou entreter-se. Uma criança não nasce para ficar sentada a ver TV ou a jogar no tablet. Uma criança não quer ficar quieta o tempo todo.
Crianças precisam se mover, navegar, procurar notícias, criar aventuras e descobrir o mundo ao seu redor. Elas estão aprender, são esponjas, jogadores natos, caçadores de tesouros. Elas são livres, almas puras que buscam a voar, não ficar de lado. Não as façamos escravas da vida adulta, da pressa e falta de imaginação dos mais velhos. Não as apressemos em nosso mundo de desencanto. Impulsionemos o seu sentimento de maravilha, garantindo-lhes uma vida emocional, social e cognitiva rica em conteúdo, perfume das flores, expressão sensorial, felicidade e conhecimento.

O que acontece no cérebro de uma criança quando brinca?

Os benefícios das brincadeiras para as crianças estão presentes em todos os níveis (fisiológicos-emocionais, comportamentais e cognitivos), isso não é um mistério. Na verdade, podemos falar de múltiplas repercussões: Regula o humor e ansiedade; Promove atenção, aprendizagem e memória; Reduz o stress, favorecendo a calma neuronal, bem-estar e felicidade; Amplia a sua motivação física, graças à qual os músculos reagem impulsionando-as a brincar; Tudo isso promove um estado ótimo de imaginação e criatividade, ajudando-as a apreciar a fantasia do que as rodeia.
A sociedade tem alimentado a hiperpaternalidade, que é a obsessão dos pais para que seus filhos tenham habilidades específicas para assegurar uma boa profissão no futuro. Esquecemo-nos, como sociedade e como educadores, que o valor das crianças não é definido por uma nota na escola e que com os esforços para priorizar os resultados, negligenciamos as habilidades para a vida.
“O valor das nossas crianças é que desde pequenas precisam que as amemos de forma independente, elas não são definidas pelas suas realizações ou fracassos, mas por serem elas mesmas, únicas por natureza. Quando somos crianças, não somos responsáveis por aquilo que recebemos na infância, mas, quando adultos, somos inteiramente responsáveis por corrigi-lo”

Simplificar a infância, educar bem

Dizemos sempre que cada pessoa é única, mas temos isso pouco interiorizado. Isso reflecte-se num simples facto: estabelecer um conjunto de regras para educar todos os nossos filhos. Na verdade, esse é um equívoco generalizado que não é de todo coerente com o que acreditamos ser claro (que cada pessoa é única). Portanto, não é de se estranhar que a confluência de nossas crenças e ações resultem em confusão na criança.
Por outro lado, como afirma Kim Payne, professor e conselheiro estadunidense, estamos criando nossas crianças com excesso de quatro pilares:
Muita informação.
Muitas coisas.
Muitas opções.
Muita velocidade.
Impedimo-las de explorar, refletir ou aliviar as tensões que acompanham a vida quotidiana. Enchemo-las de tecnologia, brinquedos e atividades escolares e extracurriculares, distorcemos a infância e, o que é pior, impedimo-las de brincar e se desenvolver.
Hoje em dia as crianças passam menos tempo ao ar livre do que as pessoas que estão na prisão. Por quê? Porque nós as mantemos “entretidas e ocupadas” em outras atividades que acreditamos mais necessárias, tentando fazer com que permaneçam imaculadas e sem manchas nas roupas. Isto é intolerável e, acima de tudo, extremamente preocupante. Consideremos algumas razões pelas quais devemos mudar isso …
Higiene excessiva aumenta a probabilidade de que as crianças desenvolvam alergias, como mostra um estudo do Hospital de Gotemburgo, Suécia. Não lhes permitimos desfrutar do ar livre é uma tortura que limita seu desenvolvimento potencial criativo. Mantê-las “agarradas” ao telemóvel, tablet, computador ou televisão é altamente prejudicial para nível fisiológico, emocional, cognitivo e comportamental. Poderíamos continuar, mas neste momento a maioria de nós já encontrou inúmeras razões pelas quais está destruindo a magia da infância. Como o educador Francesco Tonucci diz:
“A experiência das crianças deveria ser o alimento da escola: sua vida, suas surpresas e descobertas. O meu professor fazia-nos sempre esvaziar os bolsos na sala de aula, porque estavam cheios de testemunhas do mundo exterior: bichos, cordas, cartas… Bem, hoje devem fazer o oposto, pedir às crianças para mostrarem o que carregam em seus bolsos. Desta forma, a escola se abriria para a vida, recebendo as crianças com os seus conhecimentos e trabalhando em torno deles"
Esta certamente é uma maneira muito mais saudável de trabalhar com elas, educá-las e assegurar o seu sucesso. Se esquecermos isso em algum momento, devemos ter bem presente o seguinte: “Se as crianças não precisam de um banho urgente, não brincaram o suficiente.” Esta é a premissa fundamental de uma boa educação.
Por Raquel Aldana, fonte: Psicologias do Brasil (https://goo.gl/fUXGd7) 

terça-feira, 3 de julho de 2018

Políticas Públicas de Educação Infantil e emancipação da mulher

Evelin Rodrigues*

Desde a infância, nós mulheres somos estimuladas a brincar com bonecas, panelinhas e tudo o que envolve cuidados com a casa. É como se estivéssemos sendo treinadas para a fase adulta: cuidar, cozinhar, lavar, passar... Como revelam os dados do IBGE divulgados em 2017, é isso o que de fato ocorre uma vez que as mulheres trabalham 8 horas a mais que os homens por semana em atividades domésticas.
Na União Soviética, enquanto os homens lutavam pelo fim da exploração de classes, mulheres feministas argumentavam que essa luta, embora importante, não era suficiente para a emancipação feminina. Assim, pensadoras como Alexandra Kollontai e Wendy Goldman nos narram a história de como as mulheres daquela região tiveram que lutar para que a responsabilidade pela educação das crianças fosse de toda a sociedade e não somente das mulheres, sendo necessária a criação de espaços para o cuidado com as crianças. Esses lugares recebiam as crianças enquanto as mães trabalhavam.
No Brasil, existe um projeto com propostas semelhantes àquelas executadas na URSS. O CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) surge para substituir as creches, se tornando mais que um espaço assistencialista, acolhendo crianças entre 0 e 5 anos e oferecendo uma educação de qualidade gratuitamente. Os responsáveis deixam a criança ainda pela manhã no local e só voltam para buscá-la no final da tarde. Ao longo do dia elas brincam, aprendem, comem, tomam banho, socializam, entre outras coisas.
As mães, que anteriormente detinham toda a responsabilidade sobre a educação dos filhos, podem agora trabalhar assim como seus parceiros e tornarem-se independentes destes. Assim, como disse Karl Marx "a libertação da mulher é condição fundamental para a emancipação de toda humanidade". Os CMEIs têm o potencial de diminuir o ciclo de violência dos homens contra as mulheres. Dessa forma, devem ser reivindicados por todos os setores da sociedade como medida de diminuição das desigualdades entre homens e mulheres.

* Evelin Rodrigues é graduanda de Psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia.
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