sexta-feira, 11 de agosto de 2017

“Não sou mãe, nem pãe, sou pai”


“Não sou mãe, nem pãe, sou pai”

Hilan Diener é entusiasta da paternidade ativa - aquela em que o pai exerce de fato o papel de... pai. Para ele, isso é mais do que uma missão, é uma causa

Por Depoimento a Naíma Saleh - atualizada em 07/08/2017 16h49

Hilan e Luiza com os filhos Benjamin, Constança e Guadalupe (Foto: Arquivo pessoal)
Hilan e Luiza com os filhos Benjamin, Constança e Guadalupe (Foto: Arquivo pessoal)
 
“Eu sempre quis ser pai. Queria no mínimo três filhos. Hoje sou pai do Benjamin, 7 anos, da Constança, 4, e da Guadalupe, 1 ano e 5 meses – e acho que vamos parar por aqui. É muito trabalho e somos só e eu e a minha esposa, Luiza, para dar conta de tudo sozinhos. Eu achava que a gente dividia de igual para igual. Até que em novembro do ano passado, pedi demissão e vim ficar em casa junto com ela e com nossos filhos. Decidimos que iríamos nos dedicar totalmente ao blog da Luiza, o Potencial Gestante. Funcionaríamos como uma empresa familiar.
Com essa mudança, percebi que por mais que eu fizesse muitas coisas em casa, a Luiza ainda tinha uma trabalho muito maior, era dela o esforço mental de gerenciar tudo. Descobri um universo de pequenas coisas que os pais normalmente não fazem ideia. A introdução alimentar da Constança, por exemplo: foi a Luiza quem leu sobre o assunto, se informou, foi atrás. Ela é que sabe qual roupa tem que lavar, qual tem que comprar, qual está pequena. Ela é que sabe quais vacinas as crianças ainda têm que tomar, quais já tomaram... Tem umas coisas que eu me pergunto: caramba, como é que ela deu conta? Hoje, vejo como é rotina e o quanto é puxado.
Antes de ser pai, eu não sabia fazer nem o básico na cozinha, não sabia lavar roupa, cortar unha, dar banho. Coisas que minha mãe fez por mim, como mãe solo, eu nunca tinha aprendido e nem ela, nem minha vó, que também cuidava de mim, nunca quiseram me ensinar. E a gente não ser ensinado repercute lá na frente.
Para assumir essas funções hoje, a gente tem que desconstruir uma masculinidade que foi sendo incutida na gente desde a infância. É preciso mudar nossa ideia sobre o que é o masculino. Os homens têm um padrão de atuação meio agressivo à vezes, de impor poder, de não demonstrar muito os sentimentos. Eu sempre estou nesse caminho de tentar aprender, de tentar mudar. Ao ser pai, essa ideia do que é ser homem precisa começar a ser desconstruída.
Mas para isso, é preciso que os homens aprendam a rever alguns privilégios. Nós temos muitos mais tempo para nós, mais tempo para nos divertir. Em rodas de paternidade, ainda vão muito mais mulheres do que homens. Estamos muito longe ainda de ter uma noção de paternidade. Ainda é uma debate muito restrito à classe média que tem acesso à informação. Existe, sim, um movimento muito bacana, as pessoas têm conversado sobre isso, mas é preciso que haja um movimento na base.
Nessa minha empreitada, já escutei frases como “Você é uma mãe”, “você é um ‘pãe”. Eu sempre respondo: “não fale assim. Mãe é mãe e pai é pai”. Além da pessoa estar dizendo algo que eu não sou, parece que só quando o pai vira mãe é que ele entende o que é cuidar de um bebê. Não deveria ser assim. Também já ouvi comentários como “ai, você faz demais, vai inflacionar o mercado”. Só dou risada.
Paternidade como missão

Para mim, ser pai virou um ato político. Eu ser um agente da paternidade ajuda a mudar a sociedade e acredito que as crianças vão, no futuro, poder passar por caminhos que já abrimos. É uma forma de mudar o mundo. Por isso, criei com um amigo uma iniciativa em prol das boas práticas parentais que se chama “Com licença, por favor”. A ideia é avaliar as empresas para saber qual é o apoio que elas oferecem aos seus funcionários – licença maternidade/paternidade, creche, local de amamentação.
Outro dia, o Benjamin falou que ia trocar a fralda da Guadalupe. Eu não me opus, nem ajudei. Ele colocou a fralda na irmã sozinho e ficou direitinho. Fiquei feliz de ele entender que o cuidar de alguém não tem a ver com gênero; tem a ver com amor, com empatia. Acredito que meus filhos serão pessoas mais empáticas, menos machistas, mais acolhedoras, com o coração mais aberto."
Fonte:Revista Crescer
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