Em um lugar estranho, à
procura de sua figura de apoio, eles choram, fogem, rejeitam a comida, adoecem.
Inimaginável é a angústia desse completo desamparo. A experiência no berçário
de uma creche me fez entrar em contato direto com a vivência de bebês, que de
uma hora para outra precisam adaptar-se a separação de seus cuidadores e
permanecer em um universo completamente desconhecido. Um novo ambiente, agora,
vai fazer parte do seu modo de existir no mundo e em busca de comunicar-se,
eles utilizam-se dos recursos que possuem. Engatinham para fora da sala na
busca daquilo que se foi, pelo menos foi esta a reação de um bebê apresentado
como “bebê fujão”. Essa foi a forma que ele encontrou de dizer da sua angústia
de separação da mãe.
Como lidar com esses
sentimentos e emoções expressos por criaturas tão pequenas? A brincadeira
apareceu-me como uma resposta possível. O bebê que fugia em determinado momento
foi ao encontro do velocípede e em auxílio, coloquei-o no brinquedo e começamos
a correr com o brinquedo. Gargalhadas. No decorrer da manhã, o bebê fujão
passou a recorrer-se a mim, não mais fugia. Teria ele encontrado uma maneira de
lidar com sua angústia?
Essa vivência me fez
pensar na brincadeira como meio de interação com bebês no ambiente da creche e
como forma de possibilitar-lhes uma forma de ressignificar o sofrimento de
separar-se dos pais. Na psicologia, Freud fez referência ao brincar a partir da
observação de seu neto brincando com um
carretel. Ele percebeu que o jogo de aparecer e desaparecer instaurava a
separação, simbolizava um desaparecimento. Era dada, portanto, a representação
a uma perda, uma maneira de lidar com a angústia. Melanie Klein, uma psicanalista
de crianças, colocou que “O medo de perder a mãe torna doloroso o afastar-se
dela, mesmo por certos períodos; e várias formas de brincar dão expressão a
essa ansiedade e são um meio de superá-la” (1982, p. 277). Dessa forma, por
meio do brincar, o bebê pode elaborar a ausência do outro, suportar a
frustração da espera, transformando seu desconforto em um jogo prazeroso
relacionado ao outro.
Referências:
KLEIN, M. At all. Os
Progressos da Psicanálise. Editora Guanabara. Rio de Janeiro, 1982.
Tradução de Álvaro Cabral.
*Debora
Damacena de Andrade é graduanda de Psicologia ( UFG) e relata um pouco de sua
experiência do Estágio em Licenciatura de Psicologia, sendo realizado em um
Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia.
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