segunda-feira, 20 de junho de 2016

Não viva só por seus filhos!


 

Eu lhe suplico: não viva só por seus filhos! Eles não apenas precisam disso. Aliás, isso os prejudica. Quantas vidas truncadas, corações partidos, ressentimento e incompreensão! Conheço mulheres que se privam de tudo na vida por seus filhos, e depois vejo esses filhos por quem foram feitos tantos sacrifícios... é um espetáculo muito triste.
Mamãe criou o Carlos sozinha. Nunca se casou e investiu tudo em seu filho, comprou um apartamento para ele e pagou sua universidade. Ele se transformou em um homem maravilhoso e com sucesso profissional, hoje tem 50 anos e nunca se casou, não tem filhos. Tentou durante toda sua vida pagar a dívida com sua mãe.
O pai de Carolina trabalha dia e noite por seus filhos. Ele tinha grandes planos, especialmente para sua filha. Ela era talentosa e ele sonhava que se tornasse médica, por isso ele economizou para pagar sua universidade, mas ela recusou a oferta. Ela sentiu que queria viver sua própria vida, e que queria ser artista. Seu pai tentou fazê-la mudar de ideia e passou a conta. Somou tudo: o preço da educação na escola, das atividades extracurriculares, roupa, comida, e pediu que ela devolvesse o dinheiro. Acho que não é preciso dizer que Carolina nunca voltou a ver seu pai, e isso tem mais de trinta anos.
A mãe de Irene renunciou a sua vida pessoal. Depois de se divorciar, ela não conheceu outro homem porque tinha medo de traumatizar a filha. Irene, por sua parte, cresceu e agora não consegue deixar sua mãe ou falar sobre namorados. Irene vai fazer 40 anos, não casou e não tem filhos.
Os pais de Daniel e Camila são pessoas muito boas. Eles faziam tudo o que podiam e até o que não podiam para que os filhos tivessem o melhor. Sua família parecia feliz. Eles viajavam nas férias e celebravam juntos, mas com o passar dos anos, papai e mamãe se esqueceram que eram esposos. Nada mais os unia. Viveram juntos durante trinta anos como pai e mãe, mas quando os filhos saíram de casa, eles se separaram. Camila ainda não consegue entender o que aconteceu, já tem 37 anos, mas não quer casar, tem medo que a triste história dos seus pais se repita com ela, pois sua mãe perdeu muito de sua vitalidade após a separação.
Camilo foi uma criança tardia. Todos sempre faziam o que ele queria, cuidavam dele, até demais. Para falar a verdade, sua mãe cansou de esperar o príncipe encantado e decidiu que seu filho assumiria este papel, e que ela realizaria com ele o sonho de ter um homem perfeito. Tentou de todas as formas fazer dele um menino-prodígio pagando aulas particulares de diferentes idiomas, muitos cursos após a escola, e até aulas de harpa. Sua mãe estava orgulhosa e sempre pedia que ele tocasse algo para as visitas. Harpa é um instrumento muito exótico! Camilo já tem mais de 40 anos, está divorciado, outro homem cria seus filhos e ele não se incomoda com isso. Ele ainda não sabe o que quer da vida. Não se transformou em menino-prodígio, não resistiu a pressão e se entregou. Agora, bebe antes e depois de trabalhar. Sua mãe desconhece sua nova realidade.
Será que são poucas as histórias parecidas com estas? Por acaso este tipo de coisa não acontece com pessoas que parecem felizes? Quando a criança se transforma na razão de viver dos seus pais, isso se torna demais para ela. É como se a prendessem em um quarto no qual um dia o ar irá acabar. Ainda que no começo seja possível respirar, chegará o dia em que sufocará. Se sufocará no meio de tanto ’amor e cuidado’.
E, como se fosse pouco viver durante vinte anos (ou mais) uma vida que parece um deserto sufocante, de maneira geral o filho fica ali, e se mantém em dívida. É quando a respiração queima por dentro.
Depois disso há opções. O filho pode pagar a conta eternamente, como Irene ou Carlos (no início deste texto), ou se rebelar e começar a beber, e cortar todo tipo de comunicação, como Camilo ou Carolina. Quase ninguém consegue entender e aceitar um tratamento assim por parte de seus pais. É impossível aceitar algo assim sem sacrificar também a própria vida e os próprios interesses.
Por isso eu suplico: não viva só por seus filhos. Encontre outro significado para a vida, encontre outro sentido no fato de ser pai ou mãe. Para que meninos e meninas que nasçam no nosso Planeta não se transformem em devedores e vítimas da sua ’caridade’ e cuidado.
Ame seu companheiro ou companheira. As crianças irão crescer, e ele ou ela ficará com você. Pode ser você a dar exemplo às crianças ao redor de como levar uma vida saudável em casal, para que eles mesmos queiram ter sua própria família, mas você pode também truncar o desejo do seu esposo ou da sua esposa ao se meter demais nos problemas dos seus filhos, e se esquecer dele ou dela.
Ame-se. Não esqueça de si mesmo ao lutar pela felicidade dos seus filhos. Não se prive de comprar um vestido ou uma gravata (por exemplo) para comprar um novo brinquedo. Não troque de salão de beleza ou seu hobby para poder pagar um novo professor particular. Se você não cuida de si mesmo, o que pode dar aos outros? Que exemplo você dará? Que tipo de amor?
Busque o sentido da vida além das coisas materiais. Esta vida não é eterna, e assim será ainda que você não queira pensar nisso. A espiritualidade, a religião, as orações (ou qualquer forma de expressar sua espiritualidade) podem ser uma fonte de energia e vontade de viver que irão ajudar você a não jogar tudo nas costas dos seus filhos.
Não viva só por seus filhos, eu suplico. Quando encontro crianças e adultos cujos pais deram tudo e mais um pouco por eles, me dói muito olhá-los nos olhos. Em muitos deles, vejo a minha própria dor, vejo tristezas, corações partidos, almas vazias. Seus olhos gritam por ajuda, gritam de dor, de desespero e de culpa. Elas, como todas as crianças, querem amar seus pais, mas certamente não sobreviveriam aos seus cuidados.
Dê a seus filhos a oportunidade de viver e respirar. Assim, eles poderão crescer e se desenvolver na área a que foram destinados. Nosso papel como pais é muito simples: regar periodicamente, mas não esconder do sol, proteger das coisas ruins. Depois a criança, assim como uma flor, poderá crescer por conta própria e mostrar o melhor de si.

Autor: Olga Valyaeva
Tradução e adaptação: Incrível.club
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