quinta-feira, 23 de maio de 2019

Um convite a ouvir o que as crianças têm a dizer

 
Um dos momentos mais esperados na licenciatura de Psicologia é a chegada do estágio. A gente nunca sabe exatamente o que esperar e, além disso, sabemos que nunca vamos nos sentir 100% prontos ao que estará por vir. A prática tem algo do inesperado e do dinâmico que a teoria nunca vai apreender totalmente - e a isso chamamos movimento de contradição. É o que torna toda essa experiência tão incrível, inclusive: o fato de sermos completamente surpreendidos por essa falta de limites dos acontecimentos e ao mesmo tempo conseguirmos enxergar elementos teóricos acontecendo ali, na realidade. 

Quando descobri que observar e acompanhar a rotina do o agrupamento de 4 anos no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei), onde faríamos o estágio, fiquei bastante animada pois é uma idade que marcou diversas memórias agradáveis que tenho da minha infância, sobretudo como fui dando significados ao mundo. Fazia diversos questionamentos como “o que é que eu era antes de nascer?” e “por qual motivo o sol é uma estrela?”. Estava sempre perguntando sobre tudo que acontecia e cada descoberta me intrigava muito.

Dessa maneira, uma das partes mais gostosas para mim em toda essa experiência é ouvir as crianças - pois é aí que consigo enxergar o encantamento que elas têm com o mundo. Elas me surpreendem a todo momento. Quem diz que criança não entende nada definitivamente nunca escutou uma criança verdadeiramente. Elas percebem muito mais do que nós mesmos achamos, dando significados e questionando acerca do que as rodeia. Logo no primeiro dia,uma das crianças me chamou para brincar com ela de ser um gato vegano e não apenas me explicou o que era ser vegano, bem como me disse que sua irmã era. Outra criança me definiu que gigante é “aquilo que chega até o céu”. Particularmente, eu acho uma ótima definição.

Sempre que chego, as crianças vêm correndo para me cumprimentar e me contarem coisas pontuais que aconteceram em sua semana, falando sobre suas famílias, suas casas, o que comeram, mostrando algum brinquedo ou roupa nova. Também fazem perguntas e assim que eu respondo alguma, logo vem outra pergunta em cima da minha resposta. A troca que a comunicação com crianças traz é tão maravilhosa e rica que sou obrigada a finalizar esse texto trazendo um clichê: a gente acha que está ensinando alguma coisa, mas é nós mesmos que acabamos aprendendo. 

Eu acho que o que mais fica em cada visita é não perder isso que as criança tem - essa capacidade de a todo momento olhar para o mundo e se encantar com tudo que está acontecendo, tendo vontade de saber mais sobre tudo. De todas as coisas maravilhosas que o estágio traz, a que mais me marca em todas as vezes é essa espontaneidade que a gente vai perdendo no dia-a-dia mas o contato com crianças nos desafia a recuperar. 

Acredito que isso vai para além de uma escuta que trata os conteúdos trazidos na fala de uma criança apenas como aleatoriedades, mas sim ouvindo atentamente e percebendo que aquilo diz de processos de internalização e externalização que ocorrem a todo momento. Portanto, é um privilégio poder ouvir e participar ativamente disso por meio dessas interações. No que depender de mim, a cada terça-feira chegarei sempre ansiosa pelo que elas me trarão!

Por Larissa Gandora
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