terça-feira, 7 de maio de 2019

Um dia prederam o choro...


Um dia prenderam o choro. Ninguém entendia muito o motivo, mas o choro sempre escutava coisas como: “nem doeu”, “já passou” ou “você já é muito grandinho para chorar. Mas o choro sabia muito bem que ainda doía, que não havia passado e que não existe idade para chorar.
Dentro de uma cela fria, escura e solitário, o choro lamentava pois sabia que se ficasse muito tempo ali poderia nunca mais sair tornando o mundo apático e talvez até insensível. O choro então se debatia e se apertava tentando passar entre as grossas grades que o prendiam, mas era em vão. A sentença dada ao choro era dura e diária.
O choro foi sentindo-se sozinho, sem importância. Sem alimento e cuidado foi perdendo as forças e parando de lutar para se desvencilhar das correntes que o prendiam. O choro sabia que estava morrendo aos pouquinhos, mas nada podia fazer. Seu juíz era duro demais. A lei, apesar de injusta, era clara: não se deve deixar o choro livre.
As esperanças já estavam se acabando, quando o choro sentiu um toque diferente. Não era um grande juiz que o julgava a cada vez que ele lutava por sua liberdade, mas uma mão caridosa e empática, que podia sentir e compreender a dor que o choro sentia em não poder escorrer por entre a fina pele levando consigo dor, ressentimento, tristeza e proporcionando alívio.
 Aquele toque, aquelas palavras doces eram o que o choro precisava para retomar sua esperança e seu ideal de liberdade e, juntando todas as forças possíveis que ainda tinha, pode então derrubar as grades que o prendiam. O choro então veio como uma cachoeira em sua tão sonhada liberdade. Compulsivamente o choro escorria por aquele pequeno rosto, experimentava o alívio de poder sentir o calor do sol e saber que não estava só. O choro veio e escutou a mais linda frase, diferente de tudo que estava acostumado a escutar: “tudo bem, pode chorar, eu sei que estava doendo”.
Descobriram, assim, a importância de deixar-se chorar. Reconheceram que o choro não é mau, ele é importante para a vida, para o viver. Entenderam que crianças choram, meninas e meninos, e adultos também podem chorar. Sentir e viver a emoção do momento. Libertem o choro, libertem as emoções, libertem-se a si mesmos.


Por Nayara Feitosa (Graduanda de Psicologia UFG)
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário